História de Empresas Brasileiras: Tem Espaço na Academia? Questionamentos Exploratórios e Conclusões Preliminares.
Autor: Luís Eduardo Carvalheira de Mendonça
|
Comentários e sugestões são bem vindos.
O
REAd - Revista
Eletrônica de Administração
Escola de Administração
da UFRGS / PPGA
Rua Washington Luís, 855 - Centro - Porto Alegre , RS - BRASIL
CEP 90010-460
CEP 90010-460
HISTÓRIA
DE EMPRESAS BRASILEIRAS: TEM ESPAÇO NA ACADEMIA ?
QUESTIONAMENTOS EXPLORATÓRIOS E CONCLUSÕES PRELIMINARES .
(*)
Luís Eduardo Carvalheira de
Mendonça
Palavras-chave: Teoria
de Administração , ambiente
empresarial , empresas
brasileiras, história empresarial , aprendizagem, identidade
e memória .
Introdução
O propósito
deste ensaio é sugerir
à academia e aos foros
universitários que
se dê mais
espaço , ou
melhor , se abra um
lugar para discussões , análises
e registros de histórias
de organizações brasileiras. Sua intenção é
de caráter exploratório
e, como tal ,
pretende concorrer para
o debate sobre
o assunto . Trata-se, nesse sentido , de uma obra
aberta cujos
questionamentos primeiros o próprio autor os
formula. Inicia-se com uma confissão do seu
mal-estar em
sala de aula
em face
do uso intenso
e maciço de literatura
estrangeira cheia
de casos desenvolvidos
em contextos
de ambiente empresarial
bastante diferente
do nosso . A seguir ,
parte da metáfora
de que , à semelhança
das artes , somente
o estudo profundo
da história das empresas
nacionais possibilitará o conhecimento das categorias
universais da teoria
de administração . Alega que a exploração
da história de empresas
nacionais poderá ensejar
mudanças significativas no processo de aprendizagem em sala de aula e nos ambientes empresariais .
Está articulado em sete
tópicos : o primeiro
apresenta justificativa e relevância do tema ;
o segundo traça
uma breve retrospectiva
de estudos do gênero
no país ; o terceiro
faz um resumo
dos cinco projetos
- intitulados de Identidade e Memória - desenvolvidos
pelo autor ; o
quarto relata a metodologia
empregada ; o quinto
apresenta os resultados alcançados; o sexto sugere módulos
para se esboçar um programa de história empresarial ;
o último coloca dúvidas
e perplexidades relativas ao campo de estudo em tela .
1
- Justificativa e Relevância
da Matéria
A escolha
da área de história
de empresas nacionais
como objeto
de interesse deste ensaio
decorreu de um motivo
aparentemente simples
e de base subjetiva ,
porém muito
significativo para a
militância de professores e de consultores de empresas
que se debatem freqüentemente
com o problema
da escassez de relatos de casos
de empreendedores e de empreendimentos de sucesso
no país diante
da abundância de uma vasta
e bem "vendida" literatura
estrangeira , em
especial , norte-americana .
O grave , no caso ,
é o descolamento e a inadequação de contexto , em diversos ângulos
da dimensão ambiental econômica , social ,
política e cultural, de grande parte
das teses defendidas em relação à realidade nacional .
No âmbito da economia ,
por exemplo ,
há quase 10 anos
as empresas de lá
vivem uma espécie de "boom " em forte contraste
com as nossas, que
vêm penando tanto pelo
esforço da reestruturação
produtiva empresarial
como pelo do ajuste do Plano
Real e da globalização .
Além do mais ,
a natureza da intervenção
do setor público
dos E.U.A. difere da nossa , sempre tão ávida por tributos . Idêntico
raciocínio também
se aplica à mão-de-obra : entre os dois países , ela
difere tanto nos
aspectos quantitativos
quanto nos
qualitativos .
A intenção ,
pois , é que
uma discussão sobre
a história de empresas
nacionais trará, sem
dúvida , benefícios
a muitos professores
e consultores , que
se vêem, com freqüência ,
perplexos , ao testemunhar
seus alunos
fundamentando as teorias estudadas com exemplos do
estrangeiro . Ademais ,
convém registrar que
a grande maioria
das empresas brasileiras de grande porte
está na terceira geração
ou em
vias de importante
mudança de comando
e, nesse sentido , valeria a pena recuperar e tornar públicas suas trajetórias até
como um
processo ético
de devolução social
(5).
A história
empresarial brasileira
dispõe de casos de sucesso
que não
deixam a desejar a nenhum
caso de outro
país . E, o mais
importante , tais
casos indicam que
empresas souberam e sabem vencer
a partir de traços
culturais autóctones . Na verdade ,
precisa-se debruçar sobre
eles e narrá-los com
o olhar técnico ,
administrativo , gerencial
e empresarial adequados e atuais , extraindo as lições
para outras empresas ,
para as pesquisas
acadêmicas e para a sociedade
brasileira em
geral de hoje
e do futuro . Os Projetos
de Identidade e Memória ,
desenvolvidos pelo
autor e expostos
adiante , reforçam esse
ponto de vista .
2
- Breve Retrospectiva
dos Estudos do Gênero
no País
Inicialmente, deve-se assinalar
que, salvo uma ou outra exceção, como no caso do texto biográfico de Caldeira
(1995) sobre Mauá, os estudos de história, estrito senso, não dispensam ao tema
a necessária atenção. Mesmo autores contemporâneos interpretam a história
enfatizando os aspectos culturais, a dimensão social ou até o corte político,
mas, invariavelmente, fecham os olhos à contribuição das organizações tanto do
setor publico como as do setor privado (6). Estudos como os de Nogueira Filho
(1969), com sua interessantíssima obra a respeito da autogestão e as tentativas
de sua prática no Brasil são, por assim dizer, exceções para justificar a
regra. Os trabalhos dos padres Fernando Ávila, no Rio de Janeiro, e
Charbonneau, em São Paulo, de alguma forma situam os esforços das empresas em
assimilar a doutrina cristã e, nesse sentido, revelam uma perspectiva histórica
de análise.
Uma produção sistemática, com
objetivos acadêmicos conseqüentes de aprendizagem, tem sido levado a efeito por
Aquino (1987), por meio do seu bem estruturado Programa de História Empresarial
Vivida e que, nesse sentido, merece destaque. Cabe mencionar, também, o
trabalho de Agrícola Betlhem (1989) versando sobre gerência à brasileira e o de
Marcos Cobra (1991) expondo casos brasileiros de sucesso na área de
"marketing".
Merece menção, da mesma forma, a
contribuição de Ricardo Semler (1995). O então iconoclasta e jovem empresário
"abriu as veias" da cultura empresarial brasileira e, na
oportunidade, revelou um retrato relativamente fiel do universo das empresas
nacionais. Faltou-lhe, todavia, fôlego, por isso as "Idéias-Semler" foram
parar em lugar nenhum (7). Como iniciativa isolada não se deve omitir ainda a
produção do Grupo empresarial Odebrecht (1998), que promove e divulga uma muito
interessante discussão da aplicabilidade da filosofia do seu fundador nas
empresas do grupo.
Uma visão panorâmica do
pensamento e da obra de alguns líderes empresariais nacionais está, também,
presente na bem acabada graficamente coleção Pense Grande (1995), editada em
quatro volumes sob o patrocínio do extinto Banco Multiplic.
Enfim, dois livros mais recentes
dão uma importante contribuição à dissecação da história de empresas nacionais.
Em primeiro lugar, o trabalho intitulado O Estilo Brasileiro de Administrar,
voltado à discussão da mudança pela via da gestão participativa, da Método
Engenharia de São Paulo e, em segundo, o texto denominado Raízes do Sucesso
Empresarial, que explora os fatores-chave de sucesso das empresas Metal-Leve,
Weg e Belgo-Mineira. Ambos os livros resultaram de investigação de
profissionais da Fundação Dom Cabral (8). No item seguinte, um breve resumo dos
trabalhos produzidos pelo autor.
3
- Notícia dos Trabalhos Realizados pelo Autor
Todos os trabalhos aqui
mencionados foram apresentados dentro de uma moldura de uma ação de consultoria
denominada de Projeto de Identidade e Memória (9). A primeira produção deu-se
há exatamente 14 anos. Na ocasião, fez-se uma proposta à empresa pública
responsável pela operação e gestão dos transportes coletivos do município do
Recife de discutir a evolução dos transportes coletivos na cidade. Ao final,
produziu-se um livro e o trabalho foi publicado nas comemorações dos 30 anos da
empresa referida. A seguir, em 1987, o autor participou da edição de um livro
concernente à história de um empreendedor de uma fábrica de tecidos de Pernambuco,
o qual, lá pelos anos 10 do início do século, pregara e adotara, no seu
estabelecimento, idéias que posteriormente foram chamadas de "solidarismo
cristão", conforme salienta Azevedo (1986).
Mais tarde, em 1998, o autor
coordenou a edição de outro livro relativo à história de um grupo empresarial
local, em cujo conteúdo se discutem as razões do sucesso num intervalo de 40
anos. Mais recentemente, dois outros Projetos de Identidade e Memória foram
executados na área da saúde: o primeiro a respeito de uma agremiação
corporativa de médicos, uma ONG de sessenta anos e outro sobre um
hospital-escola da região, fundado nos anos 60 como instituição filantrópica,
que hoje presta serviços médicos e desfruta de notável prestígio acadêmico
local, nacional e internacional.
Nos próximos itens, uma visão
sintética do roteiro adotado e dos resultados obtidos.
4
- Visão Sumária da Metodologia Empregada
Os Projetos seguiram, em
essência, a metodologia abaixo.
I_-Fase de levantamento - (âmbito interno) entrevistas
com fundadores, empregados dos diversos níveis da empresa, com clientes e
fornecedores; identificação dos artefatos e histórias referidas pelos diversos
atores acima sobre a trajetória da organização; levantamento e classificação
das diversas políticas da empresa ao lado de documentos institucionais da sua
criação e institucionalização; (ambiente externo) rastreamento e mapeamento das
tendências do ambiente externo no que diz respeito às variáveis usualmente
utilizadas em cenários; levantamento na imprensa sobre a empresa e seu nicho de
mercado bem como sobre o comportamento de seus concorrentes, fornecedores e
clientes. Trata-se de um trabalho de reconstituição de quadro de uma "cena
já ocorrida".
II- Fase de interpretação - análise e interpretação da
trajetória da empresa reconstituindo sua evolução/involução, discutindo o
aproveitamento das oportunidades /ameaças em contraposição aos pontos
fortes/fracos; análise da cultura predominante na organização, do papel do
fundador/empreendedor, quando era o caso, e discussão das políticas
implementadas tanto no ambiente interno como no externo.
III- Fase de redação - apresentação de um documento
narrativo da trajetória da organização contemplando necessariamente o contexto
histórico, a dimensão cultural e ideológica (10) e a dimensão estratégica em
perspectiva.
5
- Resultados Alcançados
A imersão no ambiente interno da
empresa em face da análise e compreensão do seu ambiente, tarefa e negócio,
dentro de uma abordagem de base sistêmica, atravessada pelas dimensões histórica,
estratégica e cultural realizadas nesses projetos, permitiram a geração de um
série de ilações e "ïnsigths" sugestivos e ricos para a aprendizagem.
Como indicações, vejam-se abaixo os seguintes:
Reconhecimento da vontade
legítima e autêntica dos fundadores;
Identificação dos padrões de
liderança dos dirigentes e líderes;
Caracterização dos traços
fundamentais do perfil do empreendedor ou empreendedores;
Identificação dos valores
predominantes da cultura/ideologia da empresa;
Identificação das formas e dos
estilos de administração dos processos de sucessão;
Identificação dos padrões de
relacionamento da organização com seus "stakeholders";
Registro da capacidade de
adaptação e de flexibilidade da empresa ante as oportunidades que se lhe
apareceram, sem fugir ao modelo de Adizes (1990);
Caracterização das políticas da
organização e suas interdependências e tantas outras lições, como, por exemplo,
estratégias de inovação e de diversificação de produtos dentro da moldura de
estratégias concorrenciais.
Mais concretamente, esses
projetos permitiram condições de revelar o definitivo espírito empreendedor dos
fundadores das organizações privadas investigadas, aceitação e legitimidade
sociais de seus produtos, a cultura vencedora e saudável de particularmente uma
das organizações estudadas, o espírito visionário de um dos empreendedores
analisados e forte reação dos demais acionistas, bem como, no caso de alguns
líderes investigados, o traço fortemente carismático/autoritário de seus
estilos. Por fim, merece destaque que houve condições de se revelar, ainda, a
maneira como as empresas souberam enfrentar o ambiente cambiante e instável das
políticas econômicas nacionais.
Com base nesse material, fica bem
mais fácil e verossímil fazer referências e citar experiências empresariais.
Pisa-se no chão brasileiro e lida-se com atores sociais e empresariais formados
dentro da cultura e, em especial, da economia nativa.
No próximo item, orienta-se o
olhar para uma visão histórica, de hoje e do futuro, para a proposta de
conteúdos de um possível programa de ensino de história de empresas, dentro de
um contexto do ambiente econômico, social, político e cultural brasileiro,
regional e estadual.
6
- Um olhar sobre o Ontem, o Hoje e o Amanhã das Empresas no Nordeste e em Pernambuco.
É possível conceber-se o programa
de uma disciplina que cubra, de forma sistemática, a história administrativa e
gerencial das empresas brasileiras? Existiriam conteúdos suficientes para tal
escopo? Quais seriam os grandes temas de um programa de ensino/pesquisa de
administração que contemplassem tais necessidades? Na verdade, segundo o ponto
de vista defendido neste artigo, abundariam assuntos com muita consistência. De
certa forma, no entanto, seria algo diversificado, heterogêneo e desigual,
porquanto se abrangeria toda a experiência das empresas existentes nos diversos
centros econômicos do país, com suas semelhanças, mas, sobretudo, com as
diferenças de formação histórica, tamanho e expressão da economia, bem como
diferenças de padrões culturais. Certamente, em algum momento no futuro
próximo, estudos comparativos nessas áreas ocorrerão, porque as diferenças
existem e são muito atraentes como objeto de análise. A proposta que ora se faz
se restringe, no entanto, à região nordestina e ao estado de Pernambuco,
considerando-se, obviamente, o pano de fundo econômico nacional (11).Tem,
ainda, seu alcance delimitado a partir da Republica, vale dizer, desde o início
da industrialização no país. Nesse sentido, há uma intenção explícita em não se
investigar a fase imperial ou colonial, ou mesmo holandesa, apesar da
importância dessas temáticas. A opção valoriza efetivamente as formas de
produção instaladas no país, com a revolução industrial. Abaixo, proposta de
conteúdos para integrar programa segundo fases da evolução dos negócios - sob o
ponto de vista empresarial e econômico - da região e do Estado. Ajunta-se a
essas fases um módulo especial dedicado às micros e pequenas empresas.
FASE
I - COMEÇO DA INDUSTRIALIZAÇÃO (1890-1930).
O âmbito de cobertura desta fase
inicial deverá começar com o estudo das primeiras fábricas de tecidos da
região, com destaque especial ao espírito empreendedorístico de homens como
Delmiro Gouveia, Carlos Alberto de Menezes e os Lundgrens, entre outros. Na
verdade, os historiadores desta fase registram que, na última década do século
passado, Pernambuco já contava com oito fábricas de tecidos (Mendonça, 91 e
Correia de Andrade, 95). Por outro lado, nesta primeira fase da economia
republicana pernambucana, torna-se imprescindível compreender o papel e a
importância das usinas de açúcar na economia e nos processos de administração
empresarial do Estado, conforme análise de Correia de Andrade (1989) no seu
clássico livro História das Usinas de Pernambuco.
Somente à guisa de ilustração,
convém registrar que, como já referido, lá pelos anos 10 do século passado, o
empresário Carlos Alberto de Menezes adotou políticas de recursos humanos,
praticando processos de participação na gestão através de uma singularíssima
experiência de Corporação Operária na nascente vila operária de Camaragibe,
onde a Companhia Industrial de Pernambuco instalara uma fábrica de tecidos e a
ele confiou a direção (12). Da mesma magnitude é a iniciativa de Delmiro
Gouveia na sua fábrica de Pedra em Alagoas, quando resolveu fixar, no interior
dela, cartazes com exortações que hoje soariam como máximas de um Programa de
Qualidade Total do melhor estilo. Segundo Menezes (1991), no seu livro
intitulado Delmiro Gouveia - Vida e Obra, "... empolgado pela idéia de crescente
aperfeiçoamento (sic, grifos? do articulista) de sua manufatura (ele, Delmiro)
mandou afixar em todos os salões da fábrica quadros com os seguintes dizeres,
em forma de máximas:
"Quem manufatura nunca está
fazendo bem feito demais";
"Jamais se poderia dizer que
o produto é irrepreensível ou livre de defeitos";
"Todos os dias devem-se
cuidar do melhoramento do produto";
e, finalmente, esta advertência:
"Não seguindo estes
conselhos, tudo baqueará".
O ponto a comentar aqui é que o
autor do livro referido e o nosso empresário tenham manifestado - o primeiro,
em 1966, ano da publicação da primeira edição do livro, e, sobretudo Delmiro,
em 1924 - preocupações com a idéia de crescente aperfeiçoamento de seus
processos produtivos, antecipando-se em, pelo menos, três décadas à filosofia
de Deming no Japão. Tanto a sociedade como os empresários de hoje - em especial
os jovens estudantes - precisam conhecer essas e outras estratégias adotadas
por empresários nacionais de tal porte, assim como conhecem, porque estão nos
livros traduzidos, o que fez ou deixou de fazer tal ou qual empreendedor
norte-americano, europeu ou japonês, mais recentemente.
FASE
II - RECIFE : ENTREPOSTO DO NORDESTE (1930-1960).
Este período deverá iniciar-se na
década de 30 e se estender até os anos sessenta, quando se inaugurará a fase
pós -SUDENE. Nele, o material a ser explorado se concentrará no papel das
usinas e dos usineiros em Pernambuco e no Nordeste, na articulação de seus
interesses com a classe política, no padrão de sua mentalidade, no
protecionismo do governo, estudando-se, ao mesmo tempo, a formação e a
consolidação de parte da economia e administração locais no âmbito do comercio
- Recife como entreposto regional de grande expressão - em face de sua vocação
de cidade prestadora de serviços no campo da cultura, da ciência, das artes e
do lazer. Nesse contexto, cabe destacar a necessidade de se investigar a
contribuição administrativa e empresarial estrito senso dos atores sociais do
mundo empresarial da elite desses dois - comércio e serviços - espaços de
atividades produtivas.
FASE
III - O NORDESTE DA INDUSTRIALIZAÇÃO DA SUDENE (1960-1970).
Trata-se de um dos períodos mais
ricos a ser narrado com as lentes de um profissional de administração. Com
certeza, os resultados lançarão luzes bem atuais sobre o estilo brasileiro,
nordestino e pernambucano, em particular, de administrar. Para efeito de
delimitação, deve-se fixar o início a partir dos anos setenta, quando as
primeiras empresas e iniciativas governamentais começam a surgir em decorrência
dos estímulos e apoios da SUDENE, até fins dos anos oitenta, época em que os
efeitos da globalização e da terceira revolução tecnológica começam a aparecer.
Na verdade, ainda está para se contar a extensão e a profundidade dos benefícios
que o citado órgão de desenvolvimento trouxe para a região em termos de
formação, mobilização e disseminação de quadros profissionais para atuarem nas
administrações públicas dos três níveis de governo e, sobretudo, para
administrarem as indústrias e projetos rurais instalados em Pernambuco e no
Nordeste em geral.Trata-se, sem dúvida, de um capítulo à parte que merece ainda
ser escrito. Seria algo como a contribuição da SUDENE, em seus projetos de
desenvolvimento, para a instalação de uma nova cultura empresarial e
administrativa por meio da criação, em larga escala, de novas oportunidades de
emprego para profissões inéditas na região, como administradores, gerentes,
psicólogos organizacionais, contadores, nutricionistas e assistentes sociais de
empresa. A respeito desta temática, os sociólogos desenvolveram uma teoria das
chamadas "ilhas de excelência", dentre as quais a SUDENE seria um
exemplo modelar de difusão de modernidade (13). Diz Dalland (1969): "a
noção de ilhas e núcleos de planejamento em torno dos quais podem ser criadas
inovações está se tornando cada vez mais freqüente na literatura de
planejamento para o desenvolvimento" e, mais adiante, nomeia, com clareza,
a SUDENE ao lado do BNDES e outros órgãos de governo. Além do mais, muitos que
no início trabalharam naquele órgão resolveram, depois de algum tempo, instalar
seus próprios negócios, movidos basicamente pelo sopro modernizador e inovador
que a SUDENE criara no Nordeste.
Um veio de investigação muito
interessante nesse aspeto seria uma análise a respeito dos órgãos e das
agências oficiais de fomento instalados na região (SUDENE, BNB, SEBRAE e BNDES
entre outros), de modo a identificar qual a natureza, a inspiração e a real
capacidade deles de transmitirem posturas agressivas e empreendedoras nos
negócios para seus tomadores de empréstimos. Em outras palavras, em que medida
essas agências, ditas de fomento, de fato fomentaram o espírito de
autodesenvolvimento nas pessoas que a elas se dirigiram? Teriam elas fomentado
uma dependência ou, ao invés, um impulso para a independência?
FASE
IV - O RECIFE: VOCAÇÃO DE MASCATE (14) (1970-2000).
Simultaneamente ao influxo de
conhecimento que a SUDENE introduziu, registre-se o impulso que o Recife e sua
região metropolitana receberam, em termos de desenvolvimento, de seu comércio,
agora mais complexo e sofisticado em Shopping Centers, do turismo e também do
parque médico considerado por alguns como o 3º pólo médico do país, tamanha sua
expressão em qualidade dos serviços e equipamentos e instalações.
Seja no novo comércio, seja na
área do turismo, seja no campo da medicina, precisa-se pesquisar, investigar,
compreender e revelar à sociedade os casos de sucesso dessas arrojadas
iniciativas e identificar e tornar pública e universal a teoria administrativa
e gerencial que esteve e está por detrás deles. Quanto aos médicos, a
qualificação profissional indiscutivelmente se ancora nas faculdades de
medicina existentes no Estado. O que estimula saber, no entanto, é como eles
aprenderam também atuar como empreendedores e gestores de negócios clínicos e
hospitalares. Seriam os médicos administradores natos ou se socorreram de
assessores e de consultores organizacionais para implantarem e dirigirem seus
negócios? Seriam todos os comerciantes grandes administradores ou eles se
utilizaram, da mesma forma, de quadros de gerentes e de profissionais? E,
então, como analisar essas desafiantes questões? Que ideologia empresarial,
administrativa e gerencial tais empreendedores do comércio, do turismo e dos
serviços médicos introduziram na região, sozinhos ou em conjunto?(15) Dentro
dessa nova identidade de centro prestador de serviços, inclua-se ainda o
chamado Pólo de Informática da região. É necessário, por conseguinte, estudar
essas questões, fundamentalmente porque os mencionados setores estão dando
certo no contexto ambiental local, logo têm condições de serem copiados e
replicados em outras áreas empresariais, na medida do possível.
MÓDULO
V - PERNAMBUCO, O FUTURO EM CONSTRUÇÃO.
Esta fase - do fim dos anos
oitenta até os dias de hoje - deve ser explorada, discutida e narrada, dentro
de uma linguagem de administração, quanto ao atual modelo administrativo e sua
sustentação em estilos e processos nas novas e recentes teorias estrangeiras de
administração ou se a ideologia das empresas locais preservam valores
autênticos nativos ou se os combinam, isto é, em que medida esse
"mixing" tem sido feito. As respostas a tais indagações com certeza
poderão, em primeiro lugar, facilitar, em grande medida, aquelas empresas que
estão sendo ultrapassadas na expansão crescente da globalização e, em segundo,
elas ajudarão a muitos professores e consultores que estão formando quadros
novos para a região. Daí a imperiosa necessidade de se pesquisar esta temática.
Neste momento, a articulação a se perseguir não deverá somente se apoiar na
análise dos casos e padrões históricos empresariais, mas também ser focada na
cooperação para a formação de quadros de empreendedores, administradores e
gerentes que atuarão nos chamados complexos de desenvolvimento econômicos do
Estado, a saber: desenvolvimento do turismo; expansão do pólo de agricultura
irrigada; desenvolvimento sustentável da Zona da Mata ao lado de outras
atividades produtivas emergentes, como é o caso do pólo gesseiro do Araripe,
pólo metal-mecânico e do pólo cerâmico entre outros, conforme indicado no
documento PERNAMBUCO 2010-ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (1997).
MÓDULO
ESPECIAL - O UNIVERSO DAS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS.
Neste módulo, o foco não deverá
ser temporal; antes é uma área de interesse que existe no Brasil, há muito
tempo, mas nunca mereceu atenção adequada. Trata-se do estudo da micro e
pequena empresa nacional. Em Pernambuco, por exemplo, elas respondem por mais
de 95% (noventa e cinco por cento) das empresas existentes no Estado. Lá os
alunos vão empregar-se, os consultores prestam muito dos seus serviços.
Deve-se, portanto, voltar a aprendizagem (teoria /prática) para esses espaços
organizacionais. É importante se entender melhor sua dinâmica, suas estratégias,
seus processos produtivos e estilos de gerência, considerando as reais
condicionantes ambientais tanto de clientela, de concorrentes e de fornecedores
e, obviamente, de nível de presença e intervenção do governo. Não se desconhece
o papel do SEBRAE em tal processo, porém o desafio da sobrevivência e
perenização das mencionadas empresas não necessariamente depende desse único
apoio governamental. A academia não pode deixar de se preocupar com elas, até
porque há muitas possibilidades para as empresas pequenas no futuro que se
avizinha.
A história de empresas nacionais
merece ter assento na academia? As bases dos argumentos elencados são
consistentes e convincentes? No item abaixo, um panorama dos questionamentos
formulados.
7
- Questionamentos Exploratórios e Conclusões Preliminares
Muitas dúvidas emergem - na
verdade me assaltam, desculpem a primeira pessoa do singular - quando se aborda
esse tema. Não se postula, aqui, todavia, posição fechada. No momento, a
intenção é ouvir o posicionamento de outros profissionais para se obter para a
área validação ou não e, posteriormente, fazer nova síntese. Observem-se abaixo
as dúvidas.
I - O desconforto de, ao se
ministrar aula, referir-se a experiências exitosas de administração de casos
estrangeiros. Será um sentimento compartilhado por outros professores e
consultores?
II - O primeiro suposto básico,
em contraposição ao desconforto, é que se pode encontrar, nas empresas
brasileiras, casos que merecem citação e, com certeza, ilustrariam melhor o
sucesso das empresas daqui. É uma afirmativa falsa ou verdadeira?
III - O segundo suposto é que não
necessariamente teríamos de mecânica e automaticamente, assumir que os caminhos
de sucesso das empresas do primeiro mundo serão os nossos. Há algo como uma
ecologia empresarial lembrando que os remédios aplicados lá fora nem sempre dão
certo aqui. Somente para exemplificar, a crescente expansão, vitalidade e
dinamismo organizacional das ONGS - Organizações Não-governamentais nos E.U.A.
-, conforme revelado com entusiasmo por Drucker (1992), não se repetem nem com
a mesma intensidade, nem, muito menos, com os mesmos processos e práticas. Os
casos referidos pelo autor desta comunicação mostram traços culturais fortes
brasileiros ora de carisma, ora de isolamento dos dirigentes das ONGS
nacionais, diametralmente opostos aos identificados por Drucker na sociedade
americana e, nem por isso, elas deixaram de prosperar ou de dar certo. Revelam,
por outro lado, um interessante aspecto histórico, indicando que, antes do
governo de Getúlio, a elite brasileira se sentia mais responsável pela sorte
dos desafortunados (16). No plano da assimilação de idéias estrangeiras de
forma apressada, idêntica colocação já foi feita sobre a "febre" de
qualidade total que assolou no país, no fim da década passada (17). É algo
também percebido por outros profissionais?
IV - A metáfora da arte e seu
valor universal, cada vez maior como resultado de uma imersão profunda no
singular de um povo ou de uma experiência, cabe nesse contexto? É procedente?
Por quê?
V - A defesa de uma história das
empresas com os pés no chão brasileiro, central neste ensaio, não está
formulada com a intenção de referendar o atual "estado d'arte" dos
padrões de gestão empresarial nacional, que são, em grande medida, pobres e, no
âmbito cultural, plenos de práticas e de processos de base autoritária, como
destacou, com propriedade, Vasconcelos (1995) ao revelar a gênese autoritária
da gerência brasileira a partir do coronelismo da nossa formação econômica e
política. Longe deste articulista a defesa desse "status quo", em
especial nas áreas de recursos humanos e empreendedorismo onde atua. Por
momentos, chega mesmo a se perguntar: será que a nossa história de empresas
nacionais é tão fortemente marcada por protecionismo de governo, sonegação de
impostos, práticas gerenciais autoritárias coronelistas, falta de postura ética
e corrução desregrada que nos envergonhariam até de narrá-las como exemplo?
VI - E o resto do mundo tem sido
diferente ou a história publicada de muitas empresas não deixa transparecer
tais aspectos indesejáveis, apesar de sabermos de casos e mais casos de
envolvimento de empresa até com queda de governos (Allende x ITT) e o mais
recente caso de monopolização de produtos de informática denunciado pela
promotoria americana contra a Microsoft e o paradigmático empreendedor Bill
Gates?
VII - Considerando-se as
diferenças de tamanho, de expressão de dinamismo e de integração internacional
da economia e das empresas das diversas regiões do Brasil, cabe a pergunta:
temos uma história de empresas uniforme e linear? Na hipótese de um resposta
negativa (vide nota no 11 ), como abordar a matéria?
VIII - Se, por hipótese,
assumir-se que a internacionalização vai penetrar em todos os recantos da nossa
vida empresarial e os traços predominantes da nossa cultura (17) serão
inexoravelmente desprezados e que tais estudos serão, no máximo, de serventia
antropológica ou de etnografia comparada para revelar como éramos primitivos e
selvagens antes dos benefícios da globalização, o que fazer? Valeria a pena
defender sua pertinência?
IX - Sabe-se, ainda, que se fazem
muitos estudos de casos de empresas brasileiras, menos com o propósito de
aprendizagem organizacional e de devolução social do que com a indisfarçável
intenção de "venda" de imagem institucional. Isso não resiste a
qualquer crítica mais apurada. Se a história de empresa tem sido algo objeto de
"manipulação" de imagem, valeria a pena tratar desse assunto?
X - Por outro lado, ao abrir,
neste texto, a abordagem adotada, acredita-se que se tenham agregado à simples
produção de uma peça mercadológica novas dimensões e recortes de investigação
para serem objetos de um trabalho da história de empresa, tais como a questão
da análise estratégica, do tópico da cultura e do perfil empreendedorístico dos
fundadores como os mais importantes. Em outras palavras, colocam-se novas
relações ,"links" em inglês, e novas fronteiras conceituais,
visando-se a extrair da história lições de aprendizagem organizacional para
toda a comunidade de profissionais da área. Seriam essas contribuições algo
substantivo capaz de agregar conteúdos novos aos estudos de história de
organizações no país?
XI - Malgrado muito dos óbices
levantados, uma serventia de grande aplicação desses estudos poderia ser defendida
se se considerar que os programas de empreendedorismo hoje em implantação no
país precisam de tais casos para servir de paradigma e inspiração a jovens
empreendedores. Em outras palavras, a psicologia, a rede de relações, em inglês
"networking", a aprendizagem com sua equipe, a aprendizagem em termos
de estratégias empresariais e outros aspectos da vida e da vivência
empresariais seriam elementos fundamentais para identificação de modelos de
empreendedores, visando ao esforço da disseminação da cultura empreendedorística.
As pesquisas internacionais apontam para o fato de que todo empreendedor se
inspira em algum modelo - pai, parente ou alguém influente. Logo, se o país
dispõe de exemplos paradigmáticos, por que não os utilizar?(19)
XII - Será que o capital
intelectual de nossas empresas, aqui compreendendo necessariamente o capital
humano - o conhecimento, a experiência, o poder de inovações e a habilidade dos
empregados além dos valores e da cultura de uma empresa -, no sentido defendido
por Edvinsson e Malone (1999), não tem valor intangível significativo como o de
outras organizações internacionais?
Para finalizar, reitera-se a
defesa de um novo "locus" de trabalho para a academia focado nos
estudos de história de empresas. A metodologia sugerida neste ensaio pode
emprestar a tais estudos novas dimensões além de simples peça mercadológica.
Apesar da globalização, o país continua a precisar de casos de sucesso
contextualizados, historicamente surgidos no nosso ambiente, observando-se,
inclusive, as diversidades econômicas e culturais; para isso, convém estudar-se
a fundo nossos valores, hábitos e crenças; assim, poderemos mexer em
componentes e dimensões indesejáveis dessa mesma cultura. A simples negação de
sua existência tem, com freqüência, levado ao malogro, conforme adverte
Vasconcellos (1995) no texto já mencionado: "Nesse sentido, qualquer
esforço para criar uma cultura organizacional mais ousada (...) depende de
compreender e trabalhar os traços hoje existentes". Por todas as razões, acrescente-se
que, antes de, na ânsia da internacionalização, jogar-se fora, pelo ralo da
água suja, o legado da nossa história empresarial, vale a pena resgatá-la, até
porque muito do capital intelectual - da identidade empresarial brasileira -
diga-se de passagem, cultural também - está encerrado aí, na história das
empresas nacionais.
NOTAS
1 - Segundo Hosfstede, as teorias
americanas de motivação - McClelland, Maslow, Herzberg e Vroom -, apesar de
extremamente difundidas, seriam antes descrições dum sistema de valor da classe
média americana do que uma descrição universal da motivação humana. In
"Motivation, leadership and structure: do americam theories apply abroad?
Org. Dynamics, Summer 1980, apud Mendonça (1987).
2 - Os "stakeholders"
em uma organização são os indivíduos ou grupos dependentes da empresa para a
realização de seus objetivos e de quem a companhia depende para sua existência.
Nesse sentido, seriam "stakeholders" de uma empresa os empregados, os
fornecedores, os clientes, a sociedade, o governo e, obviamente, os
proprietários, mas não exclusivamente. Vale dizer, "stakehodres" é
muito mais do que "stokeholders", o conhecido acionista. In,
Rhenmam, Eric. Industrial democracy and industrial management Londom Tavistock
Institute, 1968, apud Mendonça (1987).
3 - Se alguém, hoje (abril 2001),
procurar, na internet, por história de empresa ou história de empreendedores em
português, só encontrará quatro "homepages", das quais uma única tem
configuração acadêmica de administração, vez que é mantida por um professor
universitário carioca da área. Já se, por outro lado, alguém investigar o
assunto em inglês, sob o título de "entrepreneurial history",
encontrará mais de três dezenas de centros americanos e europeus voltados ao
estudo do tema.
4 - Ver o livro Feito para durar
-Práticas Bem-sucedidas de Empresas Visionárias - Rio: Rocco, 1995.
5 - "Dos 300 maiores grupos
privados nacionais, 287 são controlados por uma ou mais famílias. Tais empresas
fundadas nas décadas de 50 e 60 estão exatamente passando pela transição do
poder de propriedade".Bernhoeft (1992) Quanto à idéia de devolução social,
a intenção é a de garantir responsabilidade social às ações empresariais.
6 - Ver a recentíssima
"História do Brasil" (1997) editada pela Rede Zero Hora e a Folha de
São Paulo, coordenada pelo jornalista e historiador Eduardo Bueno. São Paulo:
1997.
7 - O Professor Sílvio Luiz
Jonham (1996) tem uma tese interessantíssima sobre o que ele chamou de
"Idéias -Semler".
8 - Ver Barros, Betânia e Prates,
Marco Aurélio (1996); Brasil, Haroldo, Diegues, Sônia e Blanc Georges ( 1995) .
16 - Azevedo, Ferdinand - Ação
Católica no Brasil: corporativismo e sindicalismo, São Paulo: Edições Loyola,
1986.
9 - O primeiro texto publicado
dentro desta moldura de Projeto de Identidade e Memória foi sobre a empresa de
transportes coletivos do município do Recife e intitulou-se "Transportes
Coletivos no Recife: uma viagem no ônibus da CTU"; o segundo projeto foi
parte integrante do Livro de Collier sobre o empreendedor Carlos Alberto de
Menezes; o terceiro, um livro editado pela Gráfica Recife, intitulado
"Petribu: Terra e Homem"; o quarto, produzido pelas Edições Bagaço do
Recife, comemorativo dos 60 anos de existência da Sociedade de Pediatria do
Estado de Pernambuco, intitulado "Sociedade de Pediatria de Pernambuco:
Tradição, Compromisso e Cultura", publicado em 1999; o último, sobre o
Instituto de Medicina Infantil de Pernambuco, intitulado "IMIP
-Identidade, Missão e Trajetória", lançado em novembro do ano passado,
também com o selo das Edições Bagaço.
10 - A expressão
"ideologia" está sendo usada aqui no sentido de Max Pagés, nos
seguintes termos: "A ideologia predominante num grupo social ou em uma
instituição constitui de fato uma 'bricologe' de elementos disparatados
resultante de influências variadas, heranças de períodos diferentes. Para
compreender tal fenômeno é necessário não ter a visão ingênua de ideologia que
corresponde somente aos interesses da classe dominante". Vide Pagés et alli (1987).
11 - A história da administração
das empresas nacionais não pode deixar de refletir as diversidades e
desigualdades do país. Com certeza, se a experiência administrativa gerencial
acompanha o dinamismo econômico de uma dada sociedade, é de se supor que no
Brasil as nossas trajetórias foram bastante diversificadas, haja vista o caso
do Nordeste, o caso do Sul, das Minas Gerais, do Norte e a mais recente e
dinâmica situação do Centro-sul. De alguma maneira, o quadro que parece existir
no país é muito parecido com aquele retratado por Brookfield, um historiador
britânico da economia que, após analisar a economia internacional, dá uma
espécie de "colher de chá", a autores como Celso Furtado, Sunkel,
Prebrish e outros latino - americanos, para que falem e dêem suas interpretações
sobre a evolução da economia do mundo capitalista. A esse
capítulo, Brookfield deu título de - sic - " Voices from the
Periphery", in( Brookfield 1977). Em
outras palavras, a história das empresas e, por via de conseqüência, da
administração brasileira tem indiscutivelmente um peso muito grande derivado da
experiência das organizações paulistas (o Estado responde por mais de 36% do
PIB nacional), mas os demais estados, caso de Pernambuco (2,70% do mesmo PIB),
têm também uma história para contar e narrar. Na verdade, a diferença São Paulo
X E.U.A. e Europa Ocidental são "mutatis mutandi" a mesma São Paulo X
resto do país. Se não vale a pena discutir diferenças regionais, não valeria a
pena discutir também singularidade nacional.
12 - Vide (Azevedo 1986) e
(Collier 1996).
13 - (Dalland, R 1969),
(Hirschmam 1963) e (Cardoso, F.H. 1964).
14 - Em 1710, houve, em
Pernambuco, uma guerra entre as cidades de Olinda e Recife, após a elevação
desta última a condição de vila. Foi denominada de Guerra dos Mascates, porque
os portugueses de então assim chamavam depreciativamente os comerciantes
brasileiros da cidade do Recife.
15 - Sobre questão da ideologia
de profissionais, vide texto de Covre, 1981 e Bresser Pereira, L.C. 1981.
16 - Este assunto é objeto de
análise na Apresentação do livro do autor sobre a Sociedade de Pediatria de
Pernambuco, já referido na nota nove, sob o título "Por que e para que
nascem as Organizações não governamentais".
17 - "Pesquisas realizadas
no primeiro mundo revelaram um índice elevadíssimo (cerca de 70%) de insucessos
de implementação de programas de qualidade total", in( Diniz Costa ,2000).
18 - Ver o trabalho de Barros e
Prates já citado sobre o caso do Método Engenharia de São Paulo, que promoveu
uma mudança na empresa a partir de uma abordagem positiva dos valores culturais
brasileiros.
19 - O Professor Fernando
Dolabela revela esse posicionamento e defende o emprego de entrevistas com tal
propósito em seus livros O Segredo de Luíza (São Paulo: Cultura. 1999) e
Oficina do Empreendedor (São Paulo: Edit. Cultura, 2000). Posição idêntica é
defendida por Reynaldo Marcondes e Cyro Bernades no livro intitulado Criando
Empresas para o Sucesso, São Paulo: Edit Atlas, 1997.
BIBLIOGRAFIA
-ANDRADE, Manoel Correia de
-Histórias das Usinas de Pernambuco.Recife: Massangana, 1989. -__________ Os
caminhos da Modernidade. In: Pernambuco Imortal.Recife: Jornal do Commercio,
1995.
-ADIZES, I -Os Ciclos de Vida das
Organizações - São Paulo: Pioneira. 1990
-AQUINO, Cleber - História
Empresarial Vivida - volume I São Paulo: Gazeta Mercantil, 1987.
-AZEVEDO, Ferdinand.- Ação
Católica no Brasil: Corporativismo e Sindicalismo.São Paulo: Loyola, 1986.
-BARROS, B. e PRATES, M. A. - O
Estilo Brasileiro de Administração. São Paulo: Atlas, 1996.
-BERNOEFT, R - Palmo a
Palmo.Diário de Pernambuco, Recife: 09 Ago. 1992. -BRASIL, H, DIEGUES, S e
BLANC, G - Raízes do Sucesso Empresarial: A experiência de três empresas bem
sucedidas: Belgo-mineira, Metal Leve e Weg, São Paulo: Atlas, 1995.
-BETHLEM, A - Gerência à
Brasileira- São Paulo: McGraw-Hill, 1989.
-BROOKFIELD,
H - Interdependent Development, London: Methuen & Co Ltd. 1977. CALDEIRA, J- MAUÁ - Um empresário
do Império - São Paulo: Companhia da Letras, 1995.
-CARDOSO, F.H. Empresário
Industrial e Desenvolvimento Econômico, São Paulo: Difusão Européia do Livro,
1964.
-COBRA, M. -Sucessos em
Marketing- Casos brasileiros. São Paulo: Atlas, 1991.
-COLLIER, E - Carlos Alberto de
Menezes: Pioneirismo sindical e cristianismo - Recife: Digital Graph, 1996.
-COSTA, T. DINIZ - Qual o Futuro
para a Área de Recursos Humanos nas Empresas? São Paulo: Makron Books, 2000.
-CONDEPE - PERNAMBUCO 2010-
Estratégia de desenvolvimento sustentável; Recife: Seplan-Pe, 1996. -COVRE,
Maria de Lourdes. A Formação e ideologia do administrador de
empresa.Petrópolis: Vozes, 1981.
-DALLAND, R. T. - Estratégia e
Estilo do Planejamento Brasileiro -Rio: Edit Lidador, 1969.
-DOLABELA,F, - O Segredo de
Luíza. São Paulo: Cultura, 1999. -____________ - Oficina do Empreendedor.São Paulo:
Cultura, 2000.
-DRUCKER, P. - Administrando para
o futuro: os anos 90 e a virada do século - São Paulo: Pioneira, 1992.
-EDVINSSON, L e MALLONE, M -
Capital Intelectual. São Paulo: Makron Books, 1999.
-JOHANM, S. L. - O modelo
Brasileiro de Gestão Organizacional: As idéias-Semler, São Leopoldo: Edit.
Unisinos 1996.
-HISTORIA DO BRASIL -São Paulo:
de Zero Hora; Folha de São Paulo, São Paulo: 1997.
-HIRSCHMAM
A. - Journey towards Progress: Studies of economic policy-making in Latin
America. Nova York: Twenty-Century Fund, 1963.
-HOFSTED,
G- Motivation, Leadership and Structure: Do American theories apply abroad?
Org. Dynamics, summer 1980.
- MARCONDES,R e BERNARDES, C -
Criando Empresas para o Sucesso, São Paulo: Atlas, 1997.
-MENDONÇA.João Hélio - Alguns
traços da história social da industria têxtil em Pernambuco. Anais do V
Encontro de Ciências Sociais do Nordeste.Recife: FUNDAJ, 1991.
- MENDONÇA, Luís Carvalheira -
Participação na Organização.São Paulo Edit. Atlas 1987.
-__________________________ -
Petribu: Terra e homem.Recife: Gráfica Recife, 1997.
-____________________________-
Sociedade de Pediatria de Pernambuco: História, Cultura e Compromissos.Recife:
Bagaço. 1999.
-MENDONÇA, Luis Carvalheira de e
MENDONÇA, João Helio- IMIP - Identidade, Missão e Trajetória.Recife: Bagaço.
2000.
-MENDONÇA, Luís C. e PEREIRA A. -
Transportes Coletivos no Recife: Uma viagem do ônibus da Ctu.Recife: Fundação
de Cultura da Cidade do Recife, 1987.
-MENEZES, Hildebrando - Delmiro
Gouveia: Vida e morte. Recife: Cepe, 1991.
-NOGUEIRA, Paulo - Autogestão -
Participação dos trabalhadores na empresa. Rio de Janeiro: José Olímpio. 1969.
-ODEBRECHT, Norberto -
Sobreviver, crescer e perpetuar: Tecnologia empresarial Odebrecht, 2 ed.,
Salvador, 1998.
-PAGÉS, M et alli. - O poder das
organizações: a dominação das multinacionais sobre os indivíduos. São Paulo:
Atlas, 1987.
-PENSE GRANDE - Coletânea de
biografias e histórias de grandes empresários e respectivas empresas.São Paulo:
Prêmio Editorial, 1995. -PEREIRA, L.C. BRESSER -A sociedade estatal e a
tecnoburocracia. São Paulo: Brasiliense, 1981.
-PESSOA, Fernando - Poemas de
Alberto Caeiro, In: Obras Completas. Lisboa: Ática, 1970.
-RILKE, Rainer Maria - Cartas a
um jovem poeta e A canção de amor e de morte do porta estandarte Cristóvão
Rilke .1 ed,Porto Alegre.1970.
-RODRIGUES, S e DUARTE, R. -
Diversidade cultural no ambiente dos negócios internacionais.In Barbosa, L. e
Vieira, M (Org).- Administração Contemporânea: perspectivas estratégicas.São
Paulo: Atlas, 1999.
-SEMLER, R - Virando a Própria
Mesa. 7 ed. São Paulo: Best-seller1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário