quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ASSIM NASCE UMA EMPREENDEDORA...

ASSIM NASCE UMA EMPREENDEDORA...
Esta é uma cena da cidade de Serra Talhada no interior de Pernambuco. De passeio por esta cidade deparei-me com a delicadeza desta criança, com sua barraca montada, exercitando seu espirito empreendedor.Fiquei emocionado são fotos de grande  significado que  que falam por elas próprias, resumindo toda a teoria de empreendedorismo que tem seu berço na escolha  de cada pessoa e no apoio familiar (Veja-se a avó ao fundo). Mais dois detalhes que não devem passar desapercebido: 1- O estabelecimento tem donas: vovó e a menina e 2-  Há um aviso nas laterais do guarda sol:  aberto, absolutamente genial, ou seja, estão esperando os clientes...  Uso-as nas minhas primeiras aulas da disciplina de Empreendedorismo e faço a pergunta instigante para o eu profundo de cada um: quem já vendeu alguma coisa em barraquinha na frente de sua casa? 


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

IV Conferência Internacional de História Econômica & VI Encontro de Pós-Graduação em História Econômica 
USP/São Paulo, outubro de 2012.

TITULO: RECIFE MASCATE. A AVENTURA EMPREENDEDORA LUSA NA 
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX 

AUTOR: Prof. Dr. Luís Carvalheira de Mendonça, professor adjunto III, pesquisador associado do Grupo de Pesquisa Estudos Transdisciplinares em História Social do Departamento de História da Universidade Católica de Pernambuco. Email: lcm@unicap.br 

INTRODUÇÃO: Artigo baseado no livro do autor de título idêntico, publicado pela Editora Garamond, Rio de Janeiro, 2011. É pesquisa interdisciplinar que se apóia em estudos migratórios, históricos, culturais e econômicos porque nesse interregno de tempo, a cidade do Recife atravessava a era da modernidade. Analisa a ação dos lusos como grupo étnico que atuou em rede de capital social. Para este artigo, os capítulos 3º, 4º e 5º do livro foram resumidos no primeiro tópico abaixo, o capitulo 2º, original do livro, relativo ao referencial conceitual, é recuperado sendo aqui tratado como segundo item, denominado de conceitos-chave. Já as colocações do capitulo 6º em diante do livro são a fonte da exposição dos demais. Assim, baseado nos capítulos 3º e 4º relativos à imigração de Portugal para o Brasil, pode-se afirmar que o Recife não foi alvo preferencial dos imigrantes europeus no período diferentemente do século XIX onde esta cidade foi uma das buscadas pelos lusos. Aliás, os demais imigrantes europeus ou asiáticos que demandaram o país no período também não se voltaram para aqui. A razão está evidenciada no livro. São duas: 1) expansão da cultura do café na região do Vale do Paraíba e 2) em segundo, a atração exercida pela capital da República, a cidade do Rio de Janeiro. Mas, em Pernambuco a influência lusa havia criado raízes e exercido grande influência assunto que será objeto do item a seguir. 

1-NORDESTE PROFUNDO, NORDESTE LUSO: A influência na cultura dos negócios, desde a herança mascate, deixada pelos lusos sobre a o Nordeste e o Recife foi indelével, dai porque está dito que o Nordeste profundo é galego, é português. Se aqui foi a região do ciclo do açúcar, se aqui foi o lócus privilegiado onde a economia criou raízes e prosperou, foi aqui, no Norte Agrário, além da Bahia e do Rio de Janeiro, que a cultura portuguesa lançou suas primeiras e definitivas bases. Para reforçar a profundidade e extensão desses antecedentes e interdependência com o que se chama de Nordeste profundo, esta região, Pernambuco e o Recife se transformaram em depositários desta tradição portuguesa dos séculos anteriores, tradição esta que se irradia ainda hoje sobre diversos aspectos da sociedade e dos negócios. Na órbita das relações civis e comerciais, o núcleo duro da mentalidade dos negócios praticada em Pernambuco e no Recife herdou de Portugal muito de seus fundamentos. O português, mesmo dissolvendo-se na expressão de Freyre (1940), trouxe da Europa e aqui difundiu noções básicas - construtos - de receita e despesa; de escrituração mercantil elementar; de relação comerciante x freguês1melhor do que a recente expressão cliente de origem americana; da negação formal da venda fiado e da afirmação da venda pela caderneta, sem se deixar, por outro lado, de mencionar-se o jeito de fazer negócio lastreado na confiança das palavras das partes, ou, como se diz, baseado no fio de bigode. Não se pode deixar de referir ainda ao tripé casa, família e trabalho ou na ordem inversa, trabalho, casa e família, uma das mais complexas heranças portuguesa, porque tem intensa conexão com o mundo dos negócios, naquela altura e perdura até hoje. O item seguinte trata dos conceitos de empreendedorismo, empreendedor e empreendedorismo étnico e discute o enquadramento dos lusos dentro desses dessas dimensões no cenário de mudança do período.
2- CONCEITOS- CHAVE: A investigação histórica sobre empreendedorismo no Brasil em geral e no Recife em particular, não é uma tarefa fácil. Há uma omissão sobre o papel do empreendedor na cultura e na historiografia nacionais. A propósito, um dos mais prestigiados historiadores de Pernambuco, Pereira da Costa2 simplesmente omite na sua vasta bibliografia referência a empresários e/ou empreendedores. Para ele, a história parece ser feita apenas por meio da política, cultura e ação do estado. Mais ainda, se ação empreendedora for o comércio como é o caso predominante da investigação, o desprezo é grande. Trata-se, portanto, de uma omissão no que concerne ao papel do empreendedor na vida do país e da cidade. Há, pelo menos, três causas dessa omissão, porque como assinalou Marcovitch: “Os empreendedores brasileiros são mais desconhecidos do que os índios” (2003, p.15). Em primeiro lugar, os historiadores não dão destaque às firmas, salvo firmas ou empresas industriais, e mesmo quando as analisam, a tradição da historiografia os leva a hipervalorizar o Estado. De fato, não há referências significativas sobre a contribuição da empresas para a construção da Nação. Quando a empresa torna-se industrial, há alguma menção não apenas à empresa, mas até ao empreendedor. Quando ela é unicamente comercial, então parece existir um verdadeiro desprezo pelo papel do comerciante empreendedor e pelo seu negócio propriamente dito 3. É fácil identificar, em segundo lugar, na formação cultural da elite brasileira, o preconceito contra o labor comercial, como revela Azevedo (1958). Nesta tradição, esse tabu sempre existiu e ainda se manifesta na atualidade, por grande parcela da intelectualidade, haja vista a escassez de estudos voltados ao tema. Existe uma postura intelectual contra pessoas, empreendedoras ou não, que se dedicam a atividades ligadas, direta ou indiretamente à geração de capital através de empresas. Tais empreendimentos e seus atores seriam vistos apenas como agentes do capital, e não mereceriam ser analisados, salvo sob a perspectiva acro da dinâmica do capitalismo. Nos espaços dessas organizações não são percebidas produção cultural simbólica, inovação, relações humanas ou afetividade. A recusa ideológica  deixa luz para enxergar o protagonismo dessas organizações e atores, suas histórias e contribuições. Em terceiro, a pesquisa defronta-se com uma decisiva presença do estado presença, aliás, derivada da tradição portuguesa. Ora, quanto mais governo, menos empreendedorismo, logo a cultura nacional não seria um ambiente propício ao empreendedorismo, como denuncia com propriedade Carbone ao afirmar existir na cultura brasileira tem uma habilidade ímpar de neutralizar empreendedores. (CARBONE, 1996). Não obstante esta tal tabu, a suposição básica do ensaio é que os comerciantes empreendedores jogaram um papel de relevância no período no Recife. Houve uma sinergia entre a ansiedade da elite para consumir e a resposta dos empreendedores comerciantes e neste contexto são realçadas inovações do imigrante português, muitas das quais requalificaram espaços e redefiniram comportamentos. Os conceitos-chave que guiaram a pesquisa são abordados a seguir. Os temas do empreendedorismo e empreendedor, não gozam de consenso, na literatura cientifica que versa sobre o assunto. Filion já disse que “há muita confusão sobre o termo empreendedor” (1999). Há diversas acepções a conceituá-los tratando-se de um termo que encerra uma fluidez polissêmica apreciável. Apesar de tudo, há convergências. Assim, a paternidade da expressão se deve a Jean Baptiste Say, economista francês que viveu no século XIX e a usou no texto intitulado Tratado de Economia Política. Dai porque a expressão entrepreneur é um galicismo na língua portuguesa. Há, ainda, outro consenso. Foi o economista austríaco Josef Schumpeter por meio do seu livro, intitulado Teoria do Desenvolvimento Econômico (1961) que analisou a evolução do capitalismo e introduziu a idéia de que tal sistema econômico atravessa crises cíclicas e que, nesses momentos há pessoas que enxergam oportunidades para inovar através do lançamento de novos produtos, novos mercados e novos processos de produção. A partir dessa obra, o conceito passou a ser difundido e aplicado nos ambientes acadêmicos, em especial na área da economia. Como enfatiza Leite (2000), o traço fundamental do capitalismo, seria segundo Schumpeter, a destruição criativa, que incessantemente revoluciona a estrutura econômica, destruindo a velha e criando a nova. Ora, o empreendedor seria o agente dessa mudança, porque a enxerga e introduz a inovação, destruindo a velha estrutura tudo conforme sua paradigmática expressão definidora do empreendedor:  O empreendedor é o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista, constantemente criando novos produtos, novos métodos de produção, novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se os antigos métodos menos eficientes e mais caros. (1961, p.27, grifo nosso). Na trajetória das expressões, merece ser destacada ainda a abordagem psicológica de David McClelland (1961) que, a partir da sua teoria das necessidades de poder e de realização, (need of power and need of achievement), ampliou o escopo da matéria para o âmbito comportamental da psicologia das pessoas empreendedoras. Posteriormente, nos anos sessenta nos Estados Unidos, Peter Drucker (1986), agregou à dimensão comportamentalista, a idéia que o empreendedor não seria somente aquele homem introdutor de paradigmas, defendido por Schumpeter, mas pessoas que tivessem condições de desenvolver suas aptidões empreendedoras latentes. Para ele o empreendedorismo é um comportamento e como tal pode ser despertado. Ao lado da inovação, oportunidade e mudança, o empreendedor, ou melhor, dizendo, o espírito empreendedor não seria algo encontrado apenas na cabeça dos grandes visionários. As pessoas que enxergam oportunidades e que ousam satisfazer as necessidades vislumbradas nessas oportunidades, qualquer que seja o tamanho ou a natureza da organização, seriam pessoas dotadas do espírito empreendedor. (De fato, nos termos do já salientado nesta revisão, podem-se destacar três atributos que não devem deixar de existir na compreensão do que seria empreendedor: I) inovação; II) visão de oportunidade; e III) mudança. Além do mais, as mudanças impulsionadas pela ação empreendedora não se restringiriam ao campo da economia. Empreendedores da educação, da saúde, da política e de outros campos, encontram as mesmas dificuldades e soluções que os empreendedores da economia. Dentro dessa sua visão enlarguecida, a história de qualquer país está cheia de empreendedores, que enxergaram mudanças, perceberam oportunidade e ofereceram à sociedade novos processos, novos produtos e em especial novas soluções organizacionais e institucionais suprindo necessidades da sociedade tanto por empresas como por organizações e instituições em geral. Houve, então, na história do Recife, centenas e talvez milhares de pessoas que, nas suas respectivas áreas, inovaram, tornando-se impulsionadores das mudanças. Oportunidade, inovação, mudança vis a vis novas necessidades sociais e mercados, novos métodos, novos produtos e novas organizações ou instituições integram o universo empreendedor. A essas idéias os pesquisadores juntaram o conceito recente de empreendedorismo étnico, objeto da exposição a seguir. É expressão multidisciplinar que tenta explicar o comportamento das pessoas em estado de relação social de grupo. Diversos estudos abordam o assunto (FAZITO 2002; MARTES e RODRIGUEZ, 2004; MILANI, 2005; MARTINELLI, 2007; SACOMANO e TRUZZI, 2007) no caso de nacionais vivendo em outros países. Aliás, este é um tema desafiante que tem preocupado atualmente governos e nações. No Brasil, há pesquisas analisando o comportamento de imigrantes nacionais no estrangeiro e de nordestinos que vivem no Sul em situações de rede social. Machado (2008) explora a vivência de brasileiros migrantes na cidade do Porto, Portugal e oferece vasta bibliografia de casos brasileiros no exterior. Na essência, a idéia se constrói a partir da articulação de um estoque de capital social e de uma rede de relacionamento. Trata-se de um campo novo, que reúne teoria de rede do capital social, migração e iniciativas econômicas,micro e macro. Sua base fundamental é o capital social4, instalado em uma comunidade de um mesmo grupo. Tanto sob o ponto de vista sociológico como econômico, uma justificativa desses estudos decorre da constatação de que, nem as leis do mercado, nem tampouco as regras do estado planejador e concentrador, justificam plenamente a conduta das pessoas na hora da tomada de decisões econômicas. Instâncias lastreadas em normas, valores e crenças interferem na motivação dessas decisões. Esse é exatamente o tema dos estudos do capital social. O suposto básico é que um grupo étnico5 comprometido com sua cultura, uma vez no novo ambiente, opere uma rede de estabilidade e de confiança, para o imigrante recém chegado, cuja vida vem marcada pela incerteza, expectativa em relação a oportunidades de trabalho e a diferenças culturais do novo país. Uma variável relevante é que, além dos vínculos de conterraneidade, devem-se levar em conta as habilidades que o migrante disponibiliza para o grupo social que o acolhe. Nesta área das habilidades, há países, hoje em dia, por exemplo, que fomentam a imigração especializada, e logo se beneficiam das habilidades que o estrangeiro pode agregar. O Canadá é um exemplo nesse rumo. Na hipótese dos lusos no Brasil, Pescatello, mencionado por Sacomani Neto e Truzzi (2007) comenta que eles trouxeram a habilidade para contatos pessoais, daí a razão porque eles teriam se dedicado em sua maioria ao comércio. Leite (1994) igualmente salienta que os jovens imigrantes que se dirigiam ao Brasil, já detinham habilidades de poupança e de negociação adquiridas nas feiras das cidades de suas origens. Ilustrativo no contexto histórico é o fato de um dos entrevistados desta pesquisa ter declarado que foi convidado para vir para o Recife e casa de lanche porque detinha o conhecimento de pasteleiro,adquirido quando servira ao Exército, lá em Portugal. Nesse sentido, pode-se inferir que o imigrante luso agregou ao capital social da comunidade lusa recifense suas habilidades, fazendo, portanto a diferença. As motivações culturais, os conceitos de grupo de referência e o de rede de relações reforçam a idéia de que o empreendedor em grupo dispõe do capital social que o pode ajudar 6 Eles acessariam os dados para os processos de adaptação e ajustamento interno no grupo e, fundamentalmente, para inserção no novo ambiente, o ambiente estrangeiro. A expressão que dá a mais fiel representação do conceito é a de imersão traduzida de embeddedness, formulado por Granovetter, assim enunciada: As ações econômicas dos agentes estão inseridas em redes de relações sociais (embeddedness). As redes sociais são potencialmente criadoras de capital social, podendo contribuir na redução de comportamentos oportunistas e na promoção da confiança mútua entre os agentes econômicos. (GRANOVETTER apud MILANI, 2005, p.08). Nos capítulos seguintes análise do ambiente de modernidade do Recife e, posteriormente, exposto de que maneira o espírito empreendedor dos lusos e descendentes se moveu neste teatro de operações.
3- O BAILE DA MODERNIDADE NO RECIFE: A partir do que se convencionou denominar de modernidade7, aparece a expansão do capital internacional a introduzir novos métodos e processos de produção, consumo, trocas e acumulação econômica, repercutindo, por consequência, na organização da sociedade. O capital inglês traz consigo muitas das novidades e além delas a fábrica, nova realidade no processo de produção, distribuição e consumo de bens e, também, na vida da cidade. Na esteira desse processo, licenças são concedidas aos ingleses, através da The Great Western of Brazil Railway Company Limited e da Pernambuco Tramways & Power Company, para, por meio da primeira firma, explorar o trem, veículo que vai viabilizar as trocas intercidades, com a ligação de outras cidades com a cidade do Recife, mas, em especial, vai propiciar a logística da importação de equipamentos produzidos na Europa e a exportação do açúcar e do algodão aqui plantados; e, com a segunda empresa, oferecer à cidade o bonde e a energia elétrica. Ainda, o novo porto da cidade é inaugurado em 1922, e junto com ele o Bairro do Recife, tem sua reforma concluída. Com este evento, a cidade dá, ente, adeus às ruelas, becos e sobrados esguios, do Corpo Santo e do Cais da Lingüeta. Com efeito, a historiografia econômica sobre o Recife desse período, é abundante - Barbosa Viana, 1900; Melo 1958; Souza Barros, 1972; Singer, 1974; Eisenberg, 1977; Perruci, 1978; Levine, 1980; Lubambo, 1991; Vergulino, 1993 e Lima, Sicsu e Padilha, 2008 - e ressalta, unanimemente, o fato de a cidade ter sido, ao mesmo tempo, um entreposto comercial para abastecer toda a região Nordeste e uma região produtora de açúcar, algodão e de alimentos, este último em menor escala. Nos últimos dez anos do século XIX, ocorreram iniciativas destinadas a modernizar o parque industrial açucareiro, mobilizando recursos privados e públicos. De acordo com Vergulino (1993), houve uma espécie de boom econômico, em decorrência desses investimentos na agroindústria açucareira e, por conseguinte, atividades industriais inter-relacionadas, apareceram no Estado e na cidade do Recife. O dinamismo na Praça do Recife era expressivo o que vem corroborar a afirmativa de Souza Barros de que a cidade era um empório comercial, seja pelas trocas internacionais e nacionais que essas firmas realizavam, seja pela capilarização existente, na variedade e diversidade de casas comerciais para atender ao mercado do comprador local e regional. Por outro lado, Singer chama a atenção para o fato de o crescimento do Recife, no período e décadas seguintes, não se explicar apenas pelo desenvolvimento econômico da cidade, mas antes pela falta de desenvolvimento em toda a área sócio-econômica em que a cidade se localiza. Esta falta de desenvolvimento ocasiona um êxodo rural que acarreta no Recife um processo de crescimento desequilibrado que Gilberto Freyre apodou de “inchação” e que caracteriza a evolução da cidade em todo período mais recente. (1974, p.331). Em que pese essas ultimas dificuldades, a cidade experimentou expansão e renovação urbanas, ao lado de vigor e pulsação em várias áreas, particularmente nos espaços da cultura, educação e política, cujos atores e principais eventos serão objetos de análise nos itens seguintes. Se, até então, os espaços de convivência resumiam-se aos ambientes familiares e festas religiosas, com essas mudanças, a população passa a se deslocar pelos bondes que vão desempenhar papel fundamental na atmosfera da modernidade. Diz um cronista, sobre a época do bonde: Em seus bancos (e nos estribos em pé) se sentavam o trabalhador braçal, o comerciário, o estivador, o açougueiro, o médico, o bancário, o advogado, o chefe de escritório, o engenheiro, o deputado, o juiz, o desembargador, a dama da sociedade, a religiosa. (ALVES DA MOTA, 1982, p.28). As pessoas poderão vir de seus bairros e arrabaldes para o centro da cidade, e aqui poderão ser introduzidas nos templos de consumo moderno das ruas, quase que repaginadas para o que foi, aqui, denominado de O BAILE DA MODERNIDADE. Funções e distinções várias são atribuídas às ruas dos seus três bairros principais: Recife, Santo Antônio e São José. Pulsa ainda, uma vida cultural, liderada por artistas, intelectuais e jornalistas, que oferecem o último componente indispensável para que o Baile se torne real: O discurso da modernidade, o qual é produzido em aliança com as elites da época é explicado por Teixeira: Se, por conseguinte, a intelligentsia recifense - como de resto a brasileira – não coube forjar as bases referenciais em que se fundava o ideal de modernidade belle époque, coube, em contrapartida, divulgar esses ideais de modo a torná-los aceitáveis. (1995, p.8, grifo nosso). Mas, importa saber-se um pouco da geografia e dessas atividades na cidade. A funcionalidade dos bairros do centro do Recife, de acordo com Gilberto Freyre (1934) e Tadeu Rocha (1959), autores que publicaram nos anos 30 e 50, respectivamente, Guias sobre a cidade, seria a seguinte. Ao bairro do Recife, ilha originária que emprestou nome ao porto e à cidade, estava reservado os bancos, o alto comércio, os depósitos de açúcar e de algodão. Já as ruas do bairro de Santo Antônio estavam destinadas ao comércio das modistas, das perfumarias, das joalharias e das confeitarias. Era o varejo sofisticado. Aqui se situavam as Ruas Imperador, Nova e Duque de Caxias, além do Pátio do Livramento. De fato, neste bairro aconteciam as inovações da vida frenética, que os anos vinte e trinta trouxeram. Por último, as ruas do bairro de São José eram mais simples e despojadas, e nelas o comércio praticado era mais barato. O comércio desempenhou papel fundamental nos novos padrões de consumo, na territorialidade das ruas e, sobretudo, no comportamento da população. Esses registros pedem, porém, cuidadosa decodificação. De acordo com Oliveira: As ruas encantam com seus códigos, com suas histórias. As ruas têm fôlego, memórias para serem revisitadas através de profissionais interessados em compreender, no patrimônio histórico-cultural urbano, os signos que educam os sentidos de moradores e transeuntes. (2007, p.59). Na linha do seu argumento, as ruas exerceram várias funções simbólicas, dentre as quais a de indutora da reformulação de padrões culturais de comportamento, dado que os freqüentadores dos cafés, dos cinemas, bem como os apreciadores das vitrines e montras das lojas não desejavam preservar hábitos e atitudes do passado. Com base no novo paradigma almejavam atitudes novas de convivência social, inspiradas nas roupas das vitrines, nas posturas dos artistas dos filmes e nos sabores dos pratos da culinária européia oferecidos nos cafés e restaurantes. O Café Lafayette é um exemplo modelar do se quer dizer aqui. Para exemplificar sua importância, observe-se o seguinte: no acervo do Museu da Cidade do Recife, há seis registros fotográficos desse Café, também denominado de Esquina Lafayette; no acervo da Fundação Joaquim Nabuco, existem, também duas fotos e a foto estampada neste trabalho provém do livro Obra de Propaganda Geral de Pernambuco editado por José Coelho. Ora, não se documenta um prédio privado à toa! Ele representou muito para a cidade, obviamente. Este café, que durou de 1939 a 1969, mereceu encômios de diversos estudiosos, seu prestígio é o maior no modernismo da cidade. Do economista Souza Barros, ao poeta Joaquim Cardoso, os escritores Gilberto Freyre e Câmara Cascudo, passando pelos cronistas da época Flávio Guerra e Danilo Fragoso, cronistas recentes como Lima, Menezes e Paraíso, até aos acadêmicos Sylvia Couceiro e Carlos Romeiro - este último autor de dissertação de mestrado sobre o estabelecimento - todos realçam a clientela e o clima de mudança lá vivido. Fragoso assim o descreve.  Nunca talvez em nenhuma outra cidade do mundo, um depósito de cigarro teve sobre a vida da população implicâncias que a do Lafayette, da firma Moreira & Cia teve sobre o Recife. Ponto não de todos, mas de muitos encontros, ponto histórico de referência. (FRAGOSO, 1971, p.58-59). O comerciante, porém, é o barrado no baile como se diz hoje, daí porque se endossa o ponto de vista da historiadora Amorim, quando estranha o fato de a atividade comercial ser pouco explorada no Brasil como tema de pesquisa, porque alega: “foi obedecendo às solicitações do processo de circulação de mercadorias europeu que se engendrou o espaço produtivo e a própria sociedade brasileira”. (187, p.3). Embora não seja um tema explorado nos textos acadêmicos e nos dos cronistas, discute-se, a seguir, a presença e a relevância dos comerciantes, no Baile da Modernidade no Recife. A bem da verdade, Teixeira (1994) traz à baila a Associação Comercial de Pernambuco, como aliada dos intelectuais, na viabilização da modernidade na cidade. Há, ainda, uma menção explícita do economista Souza Barros (1972), ao senhor proprietário do Café Lafayette. Por outro lado, no plano nacional, há trabalhos de historiadores que discutem o tema dos comerciantes, na formação e consolidação da dinâmica da sociedade brasileira. Fragoso (1998) com o livro clássico sobre Comerciantes de Grosso Trato no Rio de Janeiro, no século XIX, e Caldeira (1994), com o seu ensaio, não por acaso intitulado A Nação Mercantilista, servem de baliza para o que se quer tratar aqui. Ora, assumindo-se que o comércio das ruas chics do Recife -Nova, da Imperatriz, Imperador, Duque de Caxias, Pátio do Livramento- concorreu para a oferta das novidades e para a mudança de hábitos da população, porque ninguém alude aos proprietários dessas lojas? Quais suas estratégias para o consumo conspícuo da clientela modernista de então? Como e aonde eles se abasteciam? Analogamente, se, como informa Couceiro, nesse período assistiu-se ao esplendor dos cafés na cidade, algumas perguntas não foram respondidas pela história. Onde estão os donos dos cafés? Como os cafés funcionavam? Quais suas estratégias, para, na linguagem de hoje, seduzir os clientes? Quem eram seus proprietários? Seriam portugueses? O café existiu sem dono, sem empreendedor! O café teria havido em virtude, exclusivamente, dos clientes- intelectuais políticos e jornalistas - que o frequentavam? Com efeito, além do caso paradigmático do Café Lafayette, que reinou, soberanamente, durante mais de 30 anos, de 1930 a 1969, (Fragoso, 1970), preservando sempre o charme de sua atração, houve várias novidades que a elite usufruiu, com sofreguidão e avidez, oferecido graças à sensibilidade dos comerciantes empreendedores. Dado que tenha havido uma moldura de modernidade a engendrar um teatro de operações para os empreendedores, o que precisa ser feito é identificar e qualificar os eventos empreendedores destacando o papel dos lusos. No capítulo seguinte, a análise dessas questões.
4- AÇÃO EMPREENDEDORA LUSA: A evidência do comportamento étnico- gestão do capital social– dos lusos na área de panificação e, em menor escala, na esfera da construção civil, será tratada em primeiro lugar e o comportamento empreendedor, em variados ramos dos ofícios do comércio e da indústria, à revelia dos preconceitos dos brasileiros, será abordado em segundo. Convém salientar um aspecto sui generis da presença deles no Brasil. O pressuposto fundamental é que o imigrante luso no Brasil e no Recife vivenciou todas ou quase todas as dificuldades que os demais imigrantes encararam quando chegaram ao país. Às vezes, paradoxalmente, a identidade lingüística, de fato, criou uma igualdade ilusória e dificultou em certos aspectos uma mais eficaz absorção do ethos nacional brasileiro. Conclusão: o imigrante luso é tão imigrante no Brasil, como qualquer outra nacionalidade. Para localizar e evidenciar tal comportamento na cidade do Recife será discutida, em primeiro lugar, a postura étnica empreendedora do português, nada mais nada menos do que na esfera da panificação, locus privilegiado de sua atuação empresarial tanto aqui, como no Brasil inteiro.8 No ano de 2001, a AIPP- Associação dos Industriais da Panificação de Pernambuco- publicou livro, intitulado Caminhos do Cinqüentenário (SIQUEIRA, 2001). Na obra, são traçadas biografias empresariais de 49 (quarenta e nove) panificadores, com referências às origem, situação familiar, entrada no setor, estabelecimentos que possui e participação na Associação. Do total de 49 industriais, 19 (dezenove) foram de origem portuguesa, o que corrobora a tradição de presença decisiva deles. Aliás, a hegemonia desta nacionalidade na Associação, está evidenciada também quando estampa fotos de três transatlânticos nos quais os portugueses viajaram para o Brasil. Preliminarmente, deve-se levar em consideração que os empreendedores vieram para o Recife a convite de algum parente-irmão, que nunca deixou de trabalhar arduamente, e que, em todos os casos, eles contaram com apoio dos parentes e amigos referidos e assim o fizeram, utilizando-se da rede de contatos de patrícios, isto é,através deles conseguiam novas oportunidades. Mas, um fenômeno, singular e relevante sob o ângulo do empreendedorismo étnico, está também relatado na mesma fonte. Trata-se da gradativa substituição da hegemonia dos portugueses no setor, nada mais nada menos do que por migrantes oriundos do interior do Estado. Diz textualmente o livro: Deste município surgiu a maioria dos panificadores que fizeram a panificação da Região Metropolitana do Recife. Conhecidos no segmento como a Nação de Aliança´, possuem mais de 100 padarias (...) Dominam o setor neste início do século 21, que antes tinha à frente os portugueses.(SIQUEIRA, 2001, p. 219, grifo nosso). São ilustrativos dos comportamentos desses migrantes internos à semelhança dos portugueses, os seguintes: utilizam-se dos laços de família e parentesco para mobilizar empreendedores. As famílias Coelho, Costa Lima, Tavares Pessoa, Tavares Costa e Galdino Pessoa respondem juntas pela centena de padarias acima referidas; os laços de família implicam em apoio no processo de ajustamento na cidade sob todos os pontos de vista, desde o financeiro até a localização de ponto; há ainda uma espécie de líder, visto como modelo o senhor Otávio Coelho, que comanda e é sempre ouvido por todos, a lembrar o líder Diniz Bravo dos lusitanos. Outra atividade empreendedora, adequado ao padrão de ação de capital social, foram o setor imobiliário e os armazéns de ferragens, madeiras e de construção. É carregada de significado, porque tem tudo a ver com a cultura do imigrante português, tanto no Brasil em geral como muito aparente, na cidade do  Recife. Tais armazéns foram segmentos empresariados pelos lusos, dedicados à demanda da expansão urbana resultado da inchação demográfica decorrente da migração interna dos nordestinos para a grande cidade e, também, para satisfazer às necessidades do setor público nas áreas de remodelação urbana, através da criação de praças e de ruas. Mas, a singularidade da postura dos lusos é que a poupança deles tendia a ser aplicada em i - terrenos, casas ou edifícios, em outras palavras em bem de raiz, tangível, construídos por eles mesmos. Na verdade, havia uma espécie de Cluster (Arranjo Produtivo Local)9, comandado e integrada pelos portugueses no Recife, que gravitava em torno do que se poderia chamar da nascente indústria da construção civil. O arranjo operava e ainda funciona, em menor proporção, em cadeia da seguinte forma: em primeiro lugar, após a poupança, os portugueses compravam terrenos e apostavam na valorização deles; em seguida, outro grupo incorporava a construção; a seguir, um terceiro fornecia material de construção desde cimento, ferragens até madeira; por fim, o ciclo se encerrava ou girava novamente, com um quarto grupo, o qual preferia comprar o imóvel e destiná-lo a aluguel. Interessantemente, como forte indício de ação de base da chamada economia étnica, o grupo oferecia seus produtos aos próprios membros da comunidade e a demanda se auto-sustentava por eles mesmos que partilhavam os mesmos valores de gestão econômica da poupança e da aplicação. Havia a criação de um mercado onde ocorria oferta e demanda de produtos dentro da própria comunidade, nos termos do que acentuam e Sacomani Neto e Truzzi (2007), no referencial conceitual já mencionado. Para encerrar, uma análise desses sinais simbólicos de mobilização do capital social das três experiências - duas da comunidade da panificação e uma, da construção civil - que constituem sinais consistentes de empreendedorismo étnico, destaque-se que nas três experiências, a base fundamental, de natureza horizontal, são os valores de confiança, lealdade e compromisso. Com base nesses valores, o imigrante disporá de informações empresariais que isoladamente não encontraria.Uma espécie de banco de dados lhe possibilitará saber: pontos de localização; natureza e perfil dos clientes; fornecedores; padrão e formas de recrutamento da mão de obra necessária; tecnologia de produção, fontes de financiamento; aval e garantia junto a fornecedores, e a oferta de parceria em sociedade e o modus operandi de empresariar no setor específico, como ficou claro no caso da panificação. Já para construção, o lastro de confiança sido a confiança na expectativa da obra concluída pelos patrícios. Por último, merece ser ressaltada a economia informal altamente vascularizada entre eles, no período. De intensidade variada diversas práticas informais de ajuda e integração eram adotadas pelo grupo. Uma espécie de economia informal de grass-roots, de formiguinha, era exercida no seio da colônia. Seja em razão do relativo desaparelhamento do fisco no período, seja em virtude do empreendedorismo na luta contra o estado, o fato é que havia circulação de riqueza, não declarada, manifestada em diferentes caminhos de ajuda e integração do grupo. Algumas práticas dão conta da extensão, penetração e vitalidade desse processo. Seriam elas:- oferecer sociedade; convidar para ser sócio; montar sociedade com parente e mobilizar o novato recém-chegado; - emprestar dinheiro, com garantia apenas de Nota Promissória entre as partes, sem registro em cartório e, à margem do sistema formal da economia; - diversificar investimentos em açougues, terrenos, casas e novos estabelecimentos com diferentes sócios; -fazer “indicação” para alguém levantar empréstimo de outrem, na prática funcionando como um avalista ou fiador informal;- mobilizar e constituir sociedade com colegas, parentes e amigos da aldeia, paróquia ou Concelho de onde vieram. Graças a esse associativismo horizontal, baseado nos laços de parentesco e de vizinhança de origem - tanto dos lusos quanto dos migrantes internos do município de Aliança, ao lado daquele outro, o verticalizado por meio da Associação de Panificadores, o segmento de panificação tem logrado êxito em muito de suas iniciativas. Em certa medida, o caso da construção civil funciona, também,dentro da mesma lógica. Em outras palavras, ele não está só na empreitada na linha da assertiva de que o migrante não se faz sozinho, uma película invisível o protege, consoante afirmam Fazito (2002), Milani (2005) e Sacomani e Truzzi (2007). O estudo volta-se, agora,para uma análise do comportamento empreendedor desses imigrantes. Para abrir essa análise,é importante considerar que durante o período trabalhado, o português, como de resto os demais imigrantes, chegavam ao Brasil e encontrava uma sociedade organizada e alicerçada em base rural, com propensão dos nativos a inclinarem-se mais às letras do que às profissões úteis, no dizer de Azevedo: “O comércio, os negócios, as empresas comerciais e industriais,(...) não pareciam interessar senão aos estrangeiros”. (1958, p.64). Dada essa estruturação,os pesquisadores como Fernando Azevedo têm acentuado que a elite de então, em especial das três primeiras décadas, tinha os interesses voltados fundamentalmente para a área rural.Neste ambiente, os portugueses ao se estabelecerem como comerciantes inseriram-se sem dificuldade na estrutura econômica e social brasileira ao exercerem papéis que não eram considerados dignos da elite. A elite desempenhava funções ligadas à economia agrícola, à gestão do Estado ou da Igreja, dentro da tradição colonial brasileira e o comércio, alvo de desprezo abria o espaço para o português, que, como empreendedor, soube se aproveitar da oportunidade e preencher o vazio. Nesse mesmo sentido, Freitas Filho, ao discorrer sobre a presença mercantil dos lusos no Rio de Janeiro, comenta: Havia uma espécie de divisão do espaço econômico no meio empresarial carioca, pois a elite local preferencialmente se dedicava às atividades agropecuárias, as profissões liberais e aos altos postos da política e da administração publica, enquanto que o imigrante português concentrava-se nas atividades comerciais e fabris. (2002, p.79). Ora, se esta assertiva cabe para o Rio de Janeiro, ela assenta-se também à elite do Recife, na época de natureza açucareira, que ostentava tanto ou mais preconceitos do que aquela do Rio de Janeiro. A elite local nutria, da mesma forma, desprezo pela atividade comercial, em que pese parte dos seus membros estarem presa aos comissários de açúcar, grandes comerciantes que financiavam suas safras. Uma vez aceito o pressuposto de que o empreendedor enxerga oportunidades de negócio e cria novos mercados, produtos e serviços conforme define Schumpeter, discutido no capítulo do referencial conceitual, o ponto defendido aqui é que muitas das firmas dos portugueses criadas no Recife, o foram como resultado desse comportamento empreendedor, superando ou convivendo com o preconceito acima.A postura empreendedora se irradiaria em segmentos como padarias e vendas ou mercearias à semelhança de outras cidades do país. O luso enxergava a oportunidade de novo mercado e logo chegava lá e supria a necessidade de pão e demais gêneros. Nessa área de abastecimento, os portugueses se notabilizaram ainda como proprietários de estabelecimentos de estivas e de secos e molhados. Mas, eles prosperaram e foram empreendedores fortes em outras áreas de maior calibre. Merecem destaque, nesse sentido, as firmas lusas que foram tão capitalizadas que disponibilizavam na praça recursos para financiamento de outras atividades. O caso da firma Mendes Lima & Cia, classificada por Souza Barros (1972) como uma das lideranças empresariais do Estado é emblemático. Esta firma e outras, conhecidas como Comissárias de Açúcar, financiavam a safra de usinas de açúcar e não raro tomavam a propriedade do grupo de usineiros nos casos de inadimplência. Mas, não apenas nas padarias e no setor de grandes financistas os imigrantes portugueses enxergaram oportunidade como é o caso das firmas de exportação e importação. A participação dos lusos nas trocas nacionais e internacionais deu-se através das aparentemente singelas denominações de suas firmas em Fulano de tal Exportação e Importação Ltda. Uma boa evidência da densidade dessa presença pode ser extraída do texto produzido por autores ingleses, com assessoria de autores brasileiros, em 1913. De acordo com essa publicação a cidade dispunha de 37 firmas voltadas à exportação e importação e delas 8 eram formadas por sócios portugueses exclusivamente ou em associação com brasileiros. A cobertura de extensão dos negócios dessas firmas é muito relevante, dado que elas operavam trocas com portos internacionais como o de New York,Havre, Liverpool, Londres, Hamburgo dentre outros, bem como com portos da costa brasileira do Rio Grande do Sul ao Pará, sem esquecer Rio de Janeiro e Santos. Nas trocas,importavam-se máquinas e acessórios para a agricultura e indústria; cimento e outros materiais para construção e ferragens grossas; carvão; miudezas, perfumarias, modas, armarinho, fazendas e confecções; charque, farinha de trigo e bacalhau. Exportavam-se açúcar, algodão, couros e peles, cacau e café. Sobre esses dados, duas reflexões. Em primeiro,constatar o dinamismo da praça devido à extensão da malha de trocas comerciais com o mundo. Em segundo, a presença das firmas lusitanas colocadas, lado a lado, no ranking das demais firmas, sejam as brasileiras, sejam aquelas inglesas, alemãs ou francesas, essas últimas com sólida retaguarda das economias em expansão de seus países. Defende-se o ponto, de que o comportamento empreendedor respondeu, em grande medida, por essa competividade das firmas lusas por várias razões, destacando que eles conheciam o mercado nacional muito bem e dispunham de razoável acúmulo de recursos financeiros na praça. Nos ramos de lojas de fazendas, a grosso e a varejo, para, por um lado, vender a produção têxtil dos cotonifícios que se fundavam e, por outro, atender à procura da população por roupas e moda, o empreendedor luso, também, viu novos mercados e se lançou à atividade e perduraram quase hegemônicos no setor até os anos 60. Outro caso singular de inovação foi da grande Casa Viana Leal. Nesse estabelecimento, os empreendedores criaram uma espécie de loja de departamentos chamada Viana Leal. Lá se vendia de tudo, de brinquedo até material de casa. Era uma grande loja com três andares e concorria, em condições de igualdade, com a Mesbla, cadeia nacional de departamento. A localização no bairro de Santo Antônio era privilegiada. A novidade era a escada rolante ligando seus três andares. A inovação exercia fascínio sobre a população e em especial sobre as crianças. Foi um tiro certeiro de marketing, baseado no faro do empreendedor. Após a novidade, tornou-se a loja que mais vendia brinquedo da marca nacional Estrela, no Brasil da década de 60.
5-CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os achados iluminam tópicos como o do empreendedorismo étnico e do comportamento empreendedor. Nesse sentido, os objetivos do trabalho foram alcançados e podem permitir aos interessados: - uma melhor compreensão das transformações da economia pernambucana; II - o estabelecimento de inter-relações entre imigração e empreendedorismo; III - o estabelecimento de inter-relações entre história e gestão empresarial; e IV - o estabelecimento de inter-relações entre cultura de negócios e economia nos seus vários setores. A pesquisa permitiu, ainda, chegar a algumas conclusões no âmbito de administração e gestão a inferência de que as três cadeias produtivas10 de atuação dos lusos (1ª-terreno, ferragem e construção; 2ª- indústr a da panificação e 3ª-alimentos em geral) operavam amparadas em uma extensa e complexa rede de capital social. Havia, como que, uma plataforma invisível que articulava todos os agentes de cada cadeia, em logísticas específicas, integradas e articuladas, baseadas fundamentalmente nos laços de confiança.Figure-se o caso de alimentos. As importadoras lusas compravam bacalhau e carne seca; os
revendiam às firmas de secos e molhados de lusos; essas, por sua vez, encaminhavam os produtos para as padarias e vendas- terminais de capilarização do sistema- preferencialmente de propriedade dos patrícios e, logo, o circuito da atuação em rede se completava e se retroalimentava. Com certeza, a partir da elucidação dessa postura empreendedora étnica, o desafio que atravessou a pesquisa de compreender o fato de tão poucos terem sido tão influentes, se vê superado definitivamente.11 Com efeito, essa o empreendedorismo luso,nesses 50 anos, pode ser encarada como um painel relevante de lições para compreensão da evolução da história empresarial do Recife, de Pernambuco e do Nordeste.

1 Em certo sentido a expressão freguês é mais interrelacionada com as raízes ibéricas na medida em
que se relaciona com freguesia, unidade territorial na que se dividia a Igreja Católica, na idade média.
2 FRANCISCO AUGUSTO PEREIRA DA COSTA é considerado o mais importante historiador  pernambucano. Nasceu e criou-se no Recife. Viveu de 1851 a 1923. Era bacharel em direito e escreveu além dos Anais Pernambucanos em 10 volumes, os livros Folclore Pernambucano e o Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres. Disponível em http://www.fundaj.gov.br. Acesso em 30.03.2009.

3 Em sentido contrário, o ensaio de Caldeira, A Nação Mercantilista, advoga que o comércio foi, durante o século XIX, a coluna vertebral do Brasil, mesmo contra a visão de irrelevância da atividade proclamada por CAIO PRADO JUNIOR e RAYMUNDO FAORO, autores de renome, seja o primeiro de confissão marxista, seja de matriz weberiana, o segundo.
4 Sobre o conceito de capital social consultar quadro de referência apresentado por MILANI (2005, p.18), no qual constam diversas correntes e a indicação de pioneirismo de emprego da expressão atribuída ao sociólogo francês Pierre Bourdieu.
5 No Brasil, a cidade de São Paulo, como um mosaico cultural que abriga várias etnias - portuguesa, italiana, japonesa, judaica, chinesa, coreana e árabe entre outras - pode ser encarada como um imenso laboratório do que se chama economia étnica.

 6 Os autores distinguem este capital do capital humano, aquele detido pela própria pessoa no plano de suas competências e habilidades e aquele outro, o capital financeiro, realizável em operações patrimoniais e econômicas. Diz PORTES: “enquanto o capital econômico se encontra nas contas bancárias e o capital humano dentro das cabeças das pessoas, o capital social reside na estrutura das suas relações. Para possuir capital social, um indivíduo precisa de se relacionar com outros, e são estes — não o próprio — a verdadeira fonte dos seus benefícios”. (2000, p.138).

7 O paradigma da modernidade teria a seguinte caracterização segundo REZENDE: “A vertigem da velocidade, a dessacralização constante de territórios antes proibidos, a exaltação do desejo e sua infinitude (...) quantidade e qualidade se misturam, no reino da produção material e, apesar de tudo, a insatisfação e o tédio sobrevivem, não saem de cena dos teatros e “boulevards” barulhentos da sociedade de consumo”. (1997, p.10).

8 Como fonte básica das reflexões serão utilizadas informações da Associação das Industriais de Panificação dePernambuco (AIPP). Essa associação foi fundada, no ano de 1951, e seus objetivos são os de congregar os associados e defender os interesses dos panificadores Por outro lado, a aparentemente despretensiosa Associação, no caso da panificação, serviu para robustecer o capital social dos empresários do setor, e dessa maneira garantiu-lhes meios organizados de pressão sobre os órgãos públicos, na área de vigilância sanitária e da política tributária, mas na esfera privada de estratégia concorrencial, tem-lhes permitido, também, criar barreiras à entrada para novos concorrentes.

9 A expressão cluster foi formulada por Michael Porter que assim o enunciou: “Os clusters (grupos, agrupamentos ou aglomerados) são concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e companhias correlatas de fornecedoresde insumos a instituições de ensino e clientes”. (PORTER, 1996).
10 Entende-se por cadeia produtiva “todas as atividades articuladas desde a pré-produção até o consumo final de um bem ou serviço. (...) Os estudos das Cadeias Produtivas proporcionam um entendimento mais completo do comportamento dos seus componentes econômicos e das tendências dos mercados, descrevendo os segmentos mais importantes e com maiores possibilidades de competitividade”. Pode ser aplicado em várias áreas tipo as do leite, do milho, do turismo entre outras. Disponível em http://www.genesis.puc.rio.br. Acesso à internet em 20.04.09.
11 Outros fatores, também, concorreram para explicar tal êxito dos lusos, tais como a tradição cultural dos gostos culinários passados pelos lusos, a fragilidade da atuação do estado como agente regulatório e fiscalizador, ao lado do desinteresse da elite local por atividades mercantis, assunto já abordado.

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ANEXO I

MAPAS E FOTOS AÉREAS DA PRESENÇA PORTUGUESA NO PERÍODO
Fonte: PLANTA DA CIDADE DO RECIFE. ANO 1920. PARTE INTEGRANTE DO DICIONÁRIO COROGRÁFICO, HISTÓRICO E ESTATÍSTICO DE PERNAMBUCO. IN GALVÃO, 2006.

ANEXO II

IMAGENS DA INFLUÊNCIA LUSA
Fonte: GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA
Fonte: ESTADO DE PERNAMBUCO. OBRA DE PROPAGANDA GERAL.
Fonte: ESTADO DE PERNAMBUCO. OBRA DE PROPAGANDA GERAL
Fonte: ÁLBUM DA COLÔNIA PORTUGUESA NO BRASIL.
Fonte: AUTOR.






domingo, 23 de dezembro de 2012

GONZAGA EMPREENDEDOR

 GONZAGA EMPREENDEDOR

Prestei consultoria ao SEBRAE-PE durante 4 meses para preparar os textos e fundamentos conceituais e teóricos para o PAVILHÃO LUIZ GONZAGA EMPREENDEDOR da FEIRA DO EMPREENDEDOR realizada no CENTRO DE CONVENÇÕES DE PE na semana de 17 a 20 de outubro passado. .Foi um trabalho muito interessante e contei com a colaboração de Rafael Leite, historiador, Heledelane Nascimento Santos e  Gleudson Trajano de Menezes, auxiliareis de pesquisa.Trata-se de um olhar da vida e obra de Gonzaga sob o prisma empreendedor. A seguir, imagens do pavilhão, nossa visita e artigo que escrevi sobre o tema. Durante a pesquisa evidenciamos a influencia de L. G. sobre a gastronomia, dança, artes gráficas,  grupos musicais, entre outras áreas da economia criativa. Nas imagens abaixo, vê-se a estilista Celinha do Cariri ao meu lado.  
o

















A OUSADIA EMPREENDEDORA DO SANFONEIRO LUIZ GONZAGA

LUÍS CARVALHEIRA DE MENDONÇA (*)
               
A obra de Luiz Gonzaga é uma das mais festejadas da música popular brasileira. Inseriu na alma brasileira a crônica da vida sertaneja nordestina, desde a vivência do semi-árido até a diáspora dos migrantes nas cidades grandes do Brasil.Sua contribuição é comparável à de Pixinquinha, Noel Rosa e tantos outros. Há, porém, na história de sua vida momentos relevantes de audácia empreendedora presentes em suas quase 20 biografias  que não foram ainda realçados talvez porque não houvesse esse olhar empreendedor, mas que merecem ser apreciados nas comemoracões de seus 100 anos de nascimento.
O ponto que defendemos é que ele foi tudo que foi, fez tudo que fez e realizou tudo que realizou porque sua trajetória foi marcada por ousadias empreendedoras. Somente esta postura explica por que e como uma pessoa negra, que experimentou a seca do Nordeste, era semi-analfabeta, migrou para o Centro- sul do país, tentou a sorte na cidade do Rio de Janeiro, tocou vários ritmos, foi impedido de cantar suas canções e sofreu humilhações nas rádios, conseguiu dobrar tudo e superar-se, transformando-se no maior sucesso de disco do pais na década de 50, conforme Gil proclamou: o baião passa a se constituir no principal gênero da nossa música popular, depois do samba.
Na área dos estudos empreendedores, seu perfil pode ser enquadrado em diversas óticas conhecidas do empreendedorismo desde Schumpeter à McClelland, de Drucker à Fillion, de Dolabella à Souza até a mais recente corrente de ação empreendedora via mobilização e integração do capital social do migrante no Sudeste do pais.
Já a linha do tempo de sua vida a partir da fuga do Exu, a carreira militar, a trajetória de dificuldades e sucesso no Rio de Janeiro, a volta a Pernambuco em busca simbolicamente de suas raízes inspiradoras, indica tal audácia empreendedora. Na verdade, sua obra foi genuinamente brasileira. Não buscou o mote de suas canções nos tangos, nas valsinhas, nem nos fados ou nas composições maviosas americanas do pós-guerra embora conhecesse todos esses gêneros. Foi na sanfona, na zabumba e na delicadeza do triângulo que ele esculpiu suas canções, cumprindo o rito da inspiração poética no dizer do poeta Fernando Pessoa ao valorizar o Rio Pajeú que banha a sua aldeia ao invés dos Rios Capibaribe e Beberibe da capital do seu estado ou a Baia da Guanabara da cidade maravilhosa. Por isso Ricardo Cravo Albin, diz que, em 1945, ele surgiu para o sucesso como uma figura de raríssima importância. (…) que teve decisiva participação histórica dentro da afirmação de uma cultura nacional mais ligada às fontes telúricas do próprio Brasil.
À luz dos comportamentos do EMPRETEC (McClelland) /SEBRAE, o enquadramento dele é paradigmático. Explorou a temática da geografia física e humana do Nordeste; adotou estratégia de focalização nesta temática nunca a abandonando; gravou músicas baseadas nos códigos simbólicos das raízes melódicas dos códigos dos migrantes nordestinos do Rio e de São Paulo e usou a era do rádio como o veículo para divulgar suas criações pelo país a fora. Inseriu-se na indústria fonográfica, com base no Rio de Janeiro, utilizando-a como vetor da logística de vendas de sua obra nas capitais do Nordeste e pelo Brasil. Graças a um bom círculo de relações tornou-se um dos músicos que mais gravou na famosa RCA Victor, produtora dos discos de vinil de então; soube, ainda, colocar, teimosamente depois de vencer várias resistências, sua voz em suas canções e protagonizou o papel de Rei na corte que inventou. Em virtude deste carisma convidou parceiros a dedo, conhecidos e novatos e associou-se a coautores fundamentais como Humberto Teixeira e Zé Dantas. O tiro certeiro dessas duas escolhas diz tudo. Um advogado e um médico, homens formados e brancos, tornariam a sua presença mais palatável aos padrões da sociedade preconceituosa de então contra nortistas pobres, escuros e analfabetos como era seu estigma, observa a pesquisadora Sulamita Vieira em obra interpretativa da produção dele. Aliás, como descobridor de talentos, a revelação   do então jovem Dominguinhos dispensa comentários.
Soube criar, também, em torno de sua produção uma cadeia de fornecedores, acompanhantes, seguidores e admiradores e inventou a fidelização de seguidores ao doar sanfonas. tendo atravessado o Brasil de norte a sul sob patrocínio de uma grande empresa em iniciativa pioneira à epoca. E mais, quando do lançamento do BAIÃO, revelou-se marketólogo (expressão de hoje) porque fez o evento acontecer, dentro de uma estratégia mercadológica comercial planejada, como assinala sua biografra, Dominique Dreyfus: contava Humberto Teixeira, a ideia de Luiz Gonzaga era fazer uma grande campanha para lançar a música do Nordeste (...) no caso do baião houve um real planejamento, uma intenção de lançar no Sul, e, portanto, para todo o Brasil, e isso tudo partiu da cabeça de Luiz Gonzaga, e só da cabeça dele.
 Não há dúvida, em um ambiente histórico onde a boemia predominava, sua audácia fez com que ele harmonizasse ócio (mundo das artes) com negócio (mundo da economia) transformando-se em pioneiro da economia criativa, resultado da autoconfiança, da perserverança e do comprometimento, lastros da ousadia do seu espírito empreendedor  singularmente genial.

(*) O autor é professor da UNICAP, pesquisador de empreendedorismo e consultor credenciado do SEBRAE-PE. Este texto resume pesquisa produzida para esta instituição, durante o primeiro semestre de 2012.
As pessoas interessadas em aprofundar o assunto posso disponibilizar slides da apresentação acima. Pedir por mensagem. Ab LCM





sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

CAFE COLOMBO
Um médico e estadista. Essas palavras descrevem bem a trajetória de Antônio Figueira, nascido em Garanhuns e que se tornou uma das principais lideranças médicas de Pernambuco no século XX. A história de Figueira foi finalmente contada em livro através da obra “Antônio Figueira – um médico estadista de Pernambuco” por Luís Carvalheira de Mendonça e Virgínia Pernambucana de Melo. Participa da entrevista Luís Carvalheira, que fala sobre como Antônio Figueira conseguiu se diferenciar dos seus pares no Estado, a infância no agreste pernambucano, a disposição para estudar medicina e até mesmo a sua influência política, com amizades que cruzavam barreiras ideológicas.






CAFE COLOMBO
Eduardo Maia e Marcelo Sandes conversam com o professor Luís Carvalheira de Mendonça, que está lançando o livro “Recife Mascate – A aventura empreendedora lusa na primeira metade do século XX”, que é baseado no trabalho de doutorado de Mendonça, realizado na Universidade de Aveiro, Portugal. A obra foi ainda premiada na categoria ensaio pelo Prêmio Literário da cidade do Recife. Na entrevista, Luís Carvalheira de Mendonça fala sobre a marcante presença de comerciantes portugueses na história do Recife. “Toda a rede de abastecimento era dominada pelos portugueses. O maior importador de bacalhau do Brasil era aqui em Pernambuco”, recorda o estudioso, também destacando a característica portuguesa de fazer poupança através do investimento em imóveis.

Minuto Unicap - Porto de Galinhas 1

História de Empresas Brasileiras: Tem Espaço na Academia? Questionamentos Exploratórios e Conclusões Preliminares.



 História de Empresas Brasileiras: Tem Espaço na Academia? Questionamentos Exploratórios e Conclusões Preliminares. 

Autor: Luís Eduardo Carvalheira de Mendonça

Edição 22 nº 4 v.7 – Setembro 2001

Comentários e sugestões são bem vindos.
                               O e-mail do editor é read@ea.ufrgs.br         
REAd - Revista Eletrônica de Administração
Escola de Administração da UFRGS / PPGA
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CEP 90010-460

HISTÓRIA DE EMPRESAS BRASILEIRAS: TEM ESPAÇO NA ACADEMIA? QUESTIONAMENTOS EXPLORATÓRIOS E CONCLUSÕES PRELIMINARES. (*)

Luís Eduardo Carvalheira de Mendonça
Professor Assistente da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)
Mestre em Administração Pública (EBAP-FGV-RIO)
Consultor de empresas e especialista em Projetos de História Empresarial.
Endereço para contato: Rua José Carvalheira 35, ap. 602, Tamarineira, Recife -PE, CEP 52051-060. Fone: 81-34413844, 81- 91111151


Palavras-chave: Teoria de Administração, ambiente empresarial, empresas brasileiras, história empresarial, aprendizagem, identidade e memória.

Resumo: Este ensaio sugere a abertura de espaço para discussões de histórias de organizações brasileiras. É exploratório e aberto, vez que alguns questionamentos são formulados pelo próprio autor. Inicia-se com uma confissão do seu 'mal-estar' em sala de aula decorrente do emprego da literatura estrangeira com casos desenvolvidos em contextos empresariais diferentes do nosso. Argumenta que somente o conhecimento da história das empresas nacionais possibilitará o acesso às categorias universais da teoria de administração. Defende que esse caminho poderá ensejar mudanças significativas na aprendizagem. Está articulado em sete tópicos, nos quais o autor discute a relevância do tema, faz uma retrospectiva de estudos do gênero no país, relata sua experiência em projetos do gênero, revelando a metodologia empregada e os resultados alcançados. Por fim, esboça uma proposta de programa de história empresarial e coloca dúvidas relativas ao campo de estudo explorado.

Introdução

O propósito deste ensaio é sugerir à academia e aos foros universitários que se mais espaço, ou melhor, se abra um lugar para discussões, análises e registros de histórias de organizações brasileiras. Sua intenção é de caráter exploratório e, como tal, pretende concorrer para o debate sobre o assunto. Trata-se, nesse sentido, de uma obra aberta cujos questionamentos primeiros o próprio autor os formula. Inicia-se com uma confissão do seu mal-estar em sala de aula em face do uso intenso e maciço de literatura estrangeira cheia de casos desenvolvidos em contextos de ambiente empresarial bastante diferente do nosso. A seguir, parte da metáfora de que, à semelhança das artes, somente o estudo profundo da história das empresas nacionais possibilitará o conhecimento das categorias universais da teoria de administração. Alega que a exploração da história de empresas nacionais poderá ensejar mudanças significativas no processo de aprendizagem em sala de aula e nos ambientes empresariais. Está articulado em sete tópicos: o primeiro apresenta justificativa e relevância do tema; o segundo traça uma breve retrospectiva de estudos do gênero no país; o terceiro faz um resumo dos cinco projetos - intitulados de Identidade e Memória - desenvolvidos pelo autor; o quarto relata a metodologia empregada; o quinto apresenta os resultados alcançados; o sexto sugere módulos para se esboçar um programa de história empresarial; o último coloca dúvidas e perplexidades relativas ao campo de estudo em tela.

1 - Justificativa e Relevância da Matéria

A escolha da área de história de empresas nacionais como objeto de interesse deste ensaio decorreu de um motivo aparentemente simples e de base subjetiva, porém muito significativo para a militância de professores e de consultores de empresas que se debatem freqüentemente com o problema da escassez de relatos de casos de empreendedores e de empreendimentos de sucesso no país diante da abundância de uma vasta e bem "vendida" literatura estrangeira, em especial, norte-americana. O grave, no caso, é o descolamento e a inadequação de contexto, em diversos ângulos da dimensão ambiental econômica, social, política e cultural, de grande parte das teses defendidas em relação à realidade nacional. No âmbito da economia, por exemplo, há quase 10 anos as empresas de vivem uma espécie de "boom" em forte contraste com as nossas, que vêm penando tanto pelo esforço da reestruturação produtiva empresarial como pelo do ajuste do Plano Real e da globalização. Além do mais, a natureza da intervenção do setor público dos E.U.A. difere da nossa, sempre tão ávida por tributos. Idêntico raciocínio também se aplica à mão-de-obra: entre os dois países, ela difere tanto nos aspectos quantitativos quanto nos qualitativos.
Não se pode esquecer, todavia, o fato de que parte expressiva de setores da economia brasileira está hoje tão integrada na esfera da economia internacional, que suas empresas - algumas fortemente desnacionalizadas - têm que praticar e adotar modelos globalizados de gestão. Mesmo nesses ambientes empresariais internacionalizados, o tema permanece atraindo a atenção de estudiosos e dirigentes conforme afirmam, em recente trabalho, Rodrigues e Duarte (1999), ao discutirem a atualidade da matéria por meio do problema da convergência (internacionalização) versus divergência (padrões locais) na ação dessas empresas.
Malgrado a tendência inescapável da globalização empregada neste artigo como sinônimo de internacionalização, o ponto levantado é: muito do que vale para interpretar o sucesso não se aplica, de modo automático, aqui. De alguma forma, a posição ora defendida, em um âmbito mais amplo da teoria de administração, assemelha-se àquela defendida por Hofstede (1980) na qual, analisando as teorias de liderança e de motivação, correntemente aceitas como universais, identificou matrizes culturais tão fortemente americanas, que inviabilizariam sua aplicação em outros contextos culturais, em especial, no europeu (1). Não se deixa, por outro lado, de reconhecer universalidade em muitas teses americanas recentes, tais como a idéia, hoje muito difundida, dos "stakeholders" (2) e mais da ética e da responsabilidade social, ou mesmo o tema do empreendedorismo ("entrepreneurship") e sua fecunda e sugestiva senda da "entrepreneurial history" (3).
Em que pese tal contraponto, a posição ora defendida passa fundamentalmente pela identidade cultural e, por via de conseqüência, pela de identidade empresarial que, como afirmam Brasil, Diegues e Blanc (1995), "... aparece como um conjunto de características interdependentes, que formam sua especificidade, estabilidade e coerência. De forma sucinta, porém incompleta, ela deixa ver a cara da empresa, sua fisionomia peculiar própria".Dentro dessa ótica, poder-se-ia dizer que, no Brasil, existem também "Empresas Feitas para Durar", parafraseando o "insigth" felicíssimo de Porras e Collins (4). Seria necessário apenas conhecê-las e divulgar suas histórias. Assim, com certeza, a teoria de administração, agora mais abrasileirada, ficaria bem mais realista. Em outras palavras, haveria uma redução sensível da distância entre a chamada teoria administrativa proclamada e a teoria administrativa praticada.
A intenção, pois, é que uma discussão sobre a história de empresas nacionais trará, sem dúvida, benefícios a muitos professores e consultores, que se vêem, com freqüência, perplexos, ao testemunhar seus alunos fundamentando as teorias estudadas com exemplos do estrangeiro. Ademais, convém registrar que a grande maioria das empresas brasileiras de grande porte está na terceira geração ou em vias de importante mudança de comando e, nesse sentido, valeria a pena recuperar e tornar públicas suas trajetórias até como um processo ético de devolução social (5).
A história empresarial brasileira dispõe de casos de sucesso que não deixam a desejar a nenhum caso de outro país. E, o mais importante, tais casos indicam que empresas souberam e sabem vencer a partir de traços culturais autóctones. Na verdade, precisa-se debruçar sobre eles e narrá-los com o olhar técnico, administrativo, gerencial e empresarial adequados e atuais, extraindo as lições para outras empresas, para as pesquisas acadêmicas e para a sociedade brasileira em geral de hoje e do futuro. Os Projetos de Identidade e Memória, desenvolvidos pelo autor e expostos adiante, reforçam esse ponto de vista.
Por outro lado, agregando uma nova perspectiva à análise, a posição ora defendida tem muito a ver com a arte, onde o universal se atinge pela singular experiência do particular. Veja, por exemplo, o amor entre Riobaldo e Diadorim descrito por Guimarães Rosa tem muito valor para a humanidade, porque representa um mergulho profundo no mistério das relações afetivas entre dois seres humanos, dentro de uma realidade das veredas do "Grande Sertão" brasileiro. A ária da Bachiana Brasileira no 5, de Villa-Lobos, emociona qualquer cidadão no mundo, porque retrata, da mesma forma, um estado d'alma de intensa inspiração melódica do povo brasileiro. O filme Cenas de um Casamento não retrataria cenas de um casamento não fossem as cenas marcadas pela direção profundamente sueca do kirkergaardiano Bergmam. Como disse Rilke (1970) nas Cartas a um Jovem Poeta: "... não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. (...) O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou". No dizer do poeta Fernando Pessoa (1970), "O Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia". A inspiração, portanto, é alcançada quando o artista se volta sobre a singular experiência do seu estado de espírito, seus desafios existenciais e suas paisagens. Daí desabrocham expressões de sentimentos humanos tão ricas, que, em qualquer lugar onde sejam lidas, ouvidas e apreciadas, proporcionarão a outro ser humano arrebatamento de beleza e prazer estético incomparáveis. Em outras palavras, as categorias da arte são universais, porque antes o foram fruto de uma profunda, intensa e única vivência particular. Mas, por que literatura, música e arte no contexto de um trabalho de administração? Simples: trata-se de uma metáfora da comunicação apresentada - o singular (história das empresas nacionais) versus o universal (visão da internacionalização e globalização).

2 - Breve Retrospectiva dos Estudos do Gênero no País

Inicialmente, deve-se assinalar que, salvo uma ou outra exceção, como no caso do texto biográfico de Caldeira (1995) sobre Mauá, os estudos de história, estrito senso, não dispensam ao tema a necessária atenção. Mesmo autores contemporâneos interpretam a história enfatizando os aspectos culturais, a dimensão social ou até o corte político, mas, invariavelmente, fecham os olhos à contribuição das organizações tanto do setor publico como as do setor privado (6). Estudos como os de Nogueira Filho (1969), com sua interessantíssima obra a respeito da autogestão e as tentativas de sua prática no Brasil são, por assim dizer, exceções para justificar a regra. Os trabalhos dos padres Fernando Ávila, no Rio de Janeiro, e Charbonneau, em São Paulo, de alguma forma situam os esforços das empresas em assimilar a doutrina cristã e, nesse sentido, revelam uma perspectiva histórica de análise.
Uma produção sistemática, com objetivos acadêmicos conseqüentes de aprendizagem, tem sido levado a efeito por Aquino (1987), por meio do seu bem estruturado Programa de História Empresarial Vivida e que, nesse sentido, merece destaque. Cabe mencionar, também, o trabalho de Agrícola Betlhem (1989) versando sobre gerência à brasileira e o de Marcos Cobra (1991) expondo casos brasileiros de sucesso na área de "marketing".
Merece menção, da mesma forma, a contribuição de Ricardo Semler (1995). O então iconoclasta e jovem empresário "abriu as veias" da cultura empresarial brasileira e, na oportunidade, revelou um retrato relativamente fiel do universo das empresas nacionais. Faltou-lhe, todavia, fôlego, por isso as "Idéias-Semler" foram parar em lugar nenhum (7). Como iniciativa isolada não se deve omitir ainda a produção do Grupo empresarial Odebrecht (1998), que promove e divulga uma muito interessante discussão da aplicabilidade da filosofia do seu fundador nas empresas do grupo.
Uma visão panorâmica do pensamento e da obra de alguns líderes empresariais nacionais está, também, presente na bem acabada graficamente coleção Pense Grande (1995), editada em quatro volumes sob o patrocínio do extinto Banco Multiplic.
Enfim, dois livros mais recentes dão uma importante contribuição à dissecação da história de empresas nacionais. Em primeiro lugar, o trabalho intitulado O Estilo Brasileiro de Administrar, voltado à discussão da mudança pela via da gestão participativa, da Método Engenharia de São Paulo e, em segundo, o texto denominado Raízes do Sucesso Empresarial, que explora os fatores-chave de sucesso das empresas Metal-Leve, Weg e Belgo-Mineira. Ambos os livros resultaram de investigação de profissionais da Fundação Dom Cabral (8). No item seguinte, um breve resumo dos trabalhos produzidos pelo autor.

3 - Notícia dos Trabalhos Realizados pelo Autor

Todos os trabalhos aqui mencionados foram apresentados dentro de uma moldura de uma ação de consultoria denominada de Projeto de Identidade e Memória (9). A primeira produção deu-se há exatamente 14 anos. Na ocasião, fez-se uma proposta à empresa pública responsável pela operação e gestão dos transportes coletivos do município do Recife de discutir a evolução dos transportes coletivos na cidade. Ao final, produziu-se um livro e o trabalho foi publicado nas comemorações dos 30 anos da empresa referida. A seguir, em 1987, o autor participou da edição de um livro concernente à história de um empreendedor de uma fábrica de tecidos de Pernambuco, o qual, lá pelos anos 10 do início do século, pregara e adotara, no seu estabelecimento, idéias que posteriormente foram chamadas de "solidarismo cristão", conforme salienta Azevedo (1986).
Mais tarde, em 1998, o autor coordenou a edição de outro livro relativo à história de um grupo empresarial local, em cujo conteúdo se discutem as razões do sucesso num intervalo de 40 anos. Mais recentemente, dois outros Projetos de Identidade e Memória foram executados na área da saúde: o primeiro a respeito de uma agremiação corporativa de médicos, uma ONG de sessenta anos e outro sobre um hospital-escola da região, fundado nos anos 60 como instituição filantrópica, que hoje presta serviços médicos e desfruta de notável prestígio acadêmico local, nacional e internacional.
Nos próximos itens, uma visão sintética do roteiro adotado e dos resultados obtidos.

4 - Visão Sumária da Metodologia Empregada

Os Projetos seguiram, em essência, a metodologia abaixo.
I_-Fase de levantamento - (âmbito interno) entrevistas com fundadores, empregados dos diversos níveis da empresa, com clientes e fornecedores; identificação dos artefatos e histórias referidas pelos diversos atores acima sobre a trajetória da organização; levantamento e classificação das diversas políticas da empresa ao lado de documentos institucionais da sua criação e institucionalização; (ambiente externo) rastreamento e mapeamento das tendências do ambiente externo no que diz respeito às variáveis usualmente utilizadas em cenários; levantamento na imprensa sobre a empresa e seu nicho de mercado bem como sobre o comportamento de seus concorrentes, fornecedores e clientes. Trata-se de um trabalho de reconstituição de quadro de uma "cena já ocorrida".
II- Fase de interpretação - análise e interpretação da trajetória da empresa reconstituindo sua evolução/involução, discutindo o aproveitamento das oportunidades /ameaças em contraposição aos pontos fortes/fracos; análise da cultura predominante na organização, do papel do fundador/empreendedor, quando era o caso, e discussão das políticas implementadas tanto no ambiente interno como no externo.
III- Fase de redação - apresentação de um documento narrativo da trajetória da organização contemplando necessariamente o contexto histórico, a dimensão cultural e ideológica (10) e a dimensão estratégica em perspectiva.

5 - Resultados Alcançados

A imersão no ambiente interno da empresa em face da análise e compreensão do seu ambiente, tarefa e negócio, dentro de uma abordagem de base sistêmica, atravessada pelas dimensões histórica, estratégica e cultural realizadas nesses projetos, permitiram a geração de um série de ilações e "ïnsigths" sugestivos e ricos para a aprendizagem. Como indicações, vejam-se abaixo os seguintes:
Reconhecimento da vontade legítima e autêntica dos fundadores;
Identificação dos padrões de liderança dos dirigentes e líderes;
Caracterização dos traços fundamentais do perfil do empreendedor ou empreendedores;
Identificação dos valores predominantes da cultura/ideologia da empresa;
Identificação das formas e dos estilos de administração dos processos de sucessão;
Identificação dos padrões de relacionamento da organização com seus "stakeholders";
Registro da capacidade de adaptação e de flexibilidade da empresa ante as oportunidades que se lhe apareceram, sem fugir ao modelo de Adizes (1990);
Caracterização das políticas da organização e suas interdependências e tantas outras lições, como, por exemplo, estratégias de inovação e de diversificação de produtos dentro da moldura de estratégias concorrenciais.
Mais concretamente, esses projetos permitiram condições de revelar o definitivo espírito empreendedor dos fundadores das organizações privadas investigadas, aceitação e legitimidade sociais de seus produtos, a cultura vencedora e saudável de particularmente uma das organizações estudadas, o espírito visionário de um dos empreendedores analisados e forte reação dos demais acionistas, bem como, no caso de alguns líderes investigados, o traço fortemente carismático/autoritário de seus estilos. Por fim, merece destaque que houve condições de se revelar, ainda, a maneira como as empresas souberam enfrentar o ambiente cambiante e instável das políticas econômicas nacionais.
Com base nesse material, fica bem mais fácil e verossímil fazer referências e citar experiências empresariais. Pisa-se no chão brasileiro e lida-se com atores sociais e empresariais formados dentro da cultura e, em especial, da economia nativa.
No próximo item, orienta-se o olhar para uma visão histórica, de hoje e do futuro, para a proposta de conteúdos de um possível programa de ensino de história de empresas, dentro de um contexto do ambiente econômico, social, político e cultural brasileiro, regional e estadual.

6 - Um olhar sobre o Ontem, o Hoje e o Amanhã das Empresas no Nordeste e em Pernambuco.

É possível conceber-se o programa de uma disciplina que cubra, de forma sistemática, a história administrativa e gerencial das empresas brasileiras? Existiriam conteúdos suficientes para tal escopo? Quais seriam os grandes temas de um programa de ensino/pesquisa de administração que contemplassem tais necessidades? Na verdade, segundo o ponto de vista defendido neste artigo, abundariam assuntos com muita consistência. De certa forma, no entanto, seria algo diversificado, heterogêneo e desigual, porquanto se abrangeria toda a experiência das empresas existentes nos diversos centros econômicos do país, com suas semelhanças, mas, sobretudo, com as diferenças de formação histórica, tamanho e expressão da economia, bem como diferenças de padrões culturais. Certamente, em algum momento no futuro próximo, estudos comparativos nessas áreas ocorrerão, porque as diferenças existem e são muito atraentes como objeto de análise. A proposta que ora se faz se restringe, no entanto, à região nordestina e ao estado de Pernambuco, considerando-se, obviamente, o pano de fundo econômico nacional (11).Tem, ainda, seu alcance delimitado a partir da Republica, vale dizer, desde o início da industrialização no país. Nesse sentido, há uma intenção explícita em não se investigar a fase imperial ou colonial, ou mesmo holandesa, apesar da importância dessas temáticas. A opção valoriza efetivamente as formas de produção instaladas no país, com a revolução industrial. Abaixo, proposta de conteúdos para integrar programa segundo fases da evolução dos negócios - sob o ponto de vista empresarial e econômico - da região e do Estado. Ajunta-se a essas fases um módulo especial dedicado às micros e pequenas empresas.

FASE I - COMEÇO DA INDUSTRIALIZAÇÃO (1890-1930).

O âmbito de cobertura desta fase inicial deverá começar com o estudo das primeiras fábricas de tecidos da região, com destaque especial ao espírito empreendedorístico de homens como Delmiro Gouveia, Carlos Alberto de Menezes e os Lundgrens, entre outros. Na verdade, os historiadores desta fase registram que, na última década do século passado, Pernambuco já contava com oito fábricas de tecidos (Mendonça, 91 e Correia de Andrade, 95). Por outro lado, nesta primeira fase da economia republicana pernambucana, torna-se imprescindível compreender o papel e a importância das usinas de açúcar na economia e nos processos de administração empresarial do Estado, conforme análise de Correia de Andrade (1989) no seu clássico livro História das Usinas de Pernambuco.
Somente à guisa de ilustração, convém registrar que, como já referido, lá pelos anos 10 do século passado, o empresário Carlos Alberto de Menezes adotou políticas de recursos humanos, praticando processos de participação na gestão através de uma singularíssima experiência de Corporação Operária na nascente vila operária de Camaragibe, onde a Companhia Industrial de Pernambuco instalara uma fábrica de tecidos e a ele confiou a direção (12). Da mesma magnitude é a iniciativa de Delmiro Gouveia na sua fábrica de Pedra em Alagoas, quando resolveu fixar, no interior dela, cartazes com exortações que hoje soariam como máximas de um Programa de Qualidade Total do melhor estilo. Segundo Menezes (1991), no seu livro intitulado Delmiro Gouveia - Vida e Obra, "... empolgado pela idéia de crescente aperfeiçoamento (sic, grifos? do articulista) de sua manufatura (ele, Delmiro) mandou afixar em todos os salões da fábrica quadros com os seguintes dizeres, em forma de máximas:
"Quem manufatura nunca está fazendo bem feito demais";
"Jamais se poderia dizer que o produto é irrepreensível ou livre de defeitos";
"Todos os dias devem-se cuidar do melhoramento do produto";
e, finalmente, esta advertência:
"Não seguindo estes conselhos, tudo baqueará".
O ponto a comentar aqui é que o autor do livro referido e o nosso empresário tenham manifestado - o primeiro, em 1966, ano da publicação da primeira edição do livro, e, sobretudo Delmiro, em 1924 - preocupações com a idéia de crescente aperfeiçoamento de seus processos produtivos, antecipando-se em, pelo menos, três décadas à filosofia de Deming no Japão. Tanto a sociedade como os empresários de hoje - em especial os jovens estudantes - precisam conhecer essas e outras estratégias adotadas por empresários nacionais de tal porte, assim como conhecem, porque estão nos livros traduzidos, o que fez ou deixou de fazer tal ou qual empreendedor norte-americano, europeu ou japonês, mais recentemente.

FASE II - RECIFE : ENTREPOSTO DO NORDESTE (1930-1960).

Este período deverá iniciar-se na década de 30 e se estender até os anos sessenta, quando se inaugurará a fase pós -SUDENE. Nele, o material a ser explorado se concentrará no papel das usinas e dos usineiros em Pernambuco e no Nordeste, na articulação de seus interesses com a classe política, no padrão de sua mentalidade, no protecionismo do governo, estudando-se, ao mesmo tempo, a formação e a consolidação de parte da economia e administração locais no âmbito do comercio - Recife como entreposto regional de grande expressão - em face de sua vocação de cidade prestadora de serviços no campo da cultura, da ciência, das artes e do lazer. Nesse contexto, cabe destacar a necessidade de se investigar a contribuição administrativa e empresarial estrito senso dos atores sociais do mundo empresarial da elite desses dois - comércio e serviços - espaços de atividades produtivas.

FASE III - O NORDESTE DA INDUSTRIALIZAÇÃO DA SUDENE (1960-1970).

Trata-se de um dos períodos mais ricos a ser narrado com as lentes de um profissional de administração. Com certeza, os resultados lançarão luzes bem atuais sobre o estilo brasileiro, nordestino e pernambucano, em particular, de administrar. Para efeito de delimitação, deve-se fixar o início a partir dos anos setenta, quando as primeiras empresas e iniciativas governamentais começam a surgir em decorrência dos estímulos e apoios da SUDENE, até fins dos anos oitenta, época em que os efeitos da globalização e da terceira revolução tecnológica começam a aparecer. Na verdade, ainda está para se contar a extensão e a profundidade dos benefícios que o citado órgão de desenvolvimento trouxe para a região em termos de formação, mobilização e disseminação de quadros profissionais para atuarem nas administrações públicas dos três níveis de governo e, sobretudo, para administrarem as indústrias e projetos rurais instalados em Pernambuco e no Nordeste em geral.Trata-se, sem dúvida, de um capítulo à parte que merece ainda ser escrito. Seria algo como a contribuição da SUDENE, em seus projetos de desenvolvimento, para a instalação de uma nova cultura empresarial e administrativa por meio da criação, em larga escala, de novas oportunidades de emprego para profissões inéditas na região, como administradores, gerentes, psicólogos organizacionais, contadores, nutricionistas e assistentes sociais de empresa. A respeito desta temática, os sociólogos desenvolveram uma teoria das chamadas "ilhas de excelência", dentre as quais a SUDENE seria um exemplo modelar de difusão de modernidade (13). Diz Dalland (1969): "a noção de ilhas e núcleos de planejamento em torno dos quais podem ser criadas inovações está se tornando cada vez mais freqüente na literatura de planejamento para o desenvolvimento" e, mais adiante, nomeia, com clareza, a SUDENE ao lado do BNDES e outros órgãos de governo. Além do mais, muitos que no início trabalharam naquele órgão resolveram, depois de algum tempo, instalar seus próprios negócios, movidos basicamente pelo sopro modernizador e inovador que a SUDENE criara no Nordeste.
Um veio de investigação muito interessante nesse aspeto seria uma análise a respeito dos órgãos e das agências oficiais de fomento instalados na região (SUDENE, BNB, SEBRAE e BNDES entre outros), de modo a identificar qual a natureza, a inspiração e a real capacidade deles de transmitirem posturas agressivas e empreendedoras nos negócios para seus tomadores de empréstimos. Em outras palavras, em que medida essas agências, ditas de fomento, de fato fomentaram o espírito de autodesenvolvimento nas pessoas que a elas se dirigiram? Teriam elas fomentado uma dependência ou, ao invés, um impulso para a independência?

FASE IV - O RECIFE: VOCAÇÃO DE MASCATE (14) (1970-2000).

Simultaneamente ao influxo de conhecimento que a SUDENE introduziu, registre-se o impulso que o Recife e sua região metropolitana receberam, em termos de desenvolvimento, de seu comércio, agora mais complexo e sofisticado em Shopping Centers, do turismo e também do parque médico considerado por alguns como o 3º pólo médico do país, tamanha sua expressão em qualidade dos serviços e equipamentos e instalações.
Seja no novo comércio, seja na área do turismo, seja no campo da medicina, precisa-se pesquisar, investigar, compreender e revelar à sociedade os casos de sucesso dessas arrojadas iniciativas e identificar e tornar pública e universal a teoria administrativa e gerencial que esteve e está por detrás deles. Quanto aos médicos, a qualificação profissional indiscutivelmente se ancora nas faculdades de medicina existentes no Estado. O que estimula saber, no entanto, é como eles aprenderam também atuar como empreendedores e gestores de negócios clínicos e hospitalares. Seriam os médicos administradores natos ou se socorreram de assessores e de consultores organizacionais para implantarem e dirigirem seus negócios? Seriam todos os comerciantes grandes administradores ou eles se utilizaram, da mesma forma, de quadros de gerentes e de profissionais? E, então, como analisar essas desafiantes questões? Que ideologia empresarial, administrativa e gerencial tais empreendedores do comércio, do turismo e dos serviços médicos introduziram na região, sozinhos ou em conjunto?(15) Dentro dessa nova identidade de centro prestador de serviços, inclua-se ainda o chamado Pólo de Informática da região. É necessário, por conseguinte, estudar essas questões, fundamentalmente porque os mencionados setores estão dando certo no contexto ambiental local, logo têm condições de serem copiados e replicados em outras áreas empresariais, na medida do possível.

MÓDULO V - PERNAMBUCO, O FUTURO EM CONSTRUÇÃO.

Esta fase - do fim dos anos oitenta até os dias de hoje - deve ser explorada, discutida e narrada, dentro de uma linguagem de administração, quanto ao atual modelo administrativo e sua sustentação em estilos e processos nas novas e recentes teorias estrangeiras de administração ou se a ideologia das empresas locais preservam valores autênticos nativos ou se os combinam, isto é, em que medida esse "mixing" tem sido feito. As respostas a tais indagações com certeza poderão, em primeiro lugar, facilitar, em grande medida, aquelas empresas que estão sendo ultrapassadas na expansão crescente da globalização e, em segundo, elas ajudarão a muitos professores e consultores que estão formando quadros novos para a região. Daí a imperiosa necessidade de se pesquisar esta temática. Neste momento, a articulação a se perseguir não deverá somente se apoiar na análise dos casos e padrões históricos empresariais, mas também ser focada na cooperação para a formação de quadros de empreendedores, administradores e gerentes que atuarão nos chamados complexos de desenvolvimento econômicos do Estado, a saber: desenvolvimento do turismo; expansão do pólo de agricultura irrigada; desenvolvimento sustentável da Zona da Mata ao lado de outras atividades produtivas emergentes, como é o caso do pólo gesseiro do Araripe, pólo metal-mecânico e do pólo cerâmico entre outros, conforme indicado no documento PERNAMBUCO 2010-ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (1997).

MÓDULO ESPECIAL - O UNIVERSO DAS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS.

Neste módulo, o foco não deverá ser temporal; antes é uma área de interesse que existe no Brasil, há muito tempo, mas nunca mereceu atenção adequada. Trata-se do estudo da micro e pequena empresa nacional. Em Pernambuco, por exemplo, elas respondem por mais de 95% (noventa e cinco por cento) das empresas existentes no Estado. Lá os alunos vão empregar-se, os consultores prestam muito dos seus serviços. Deve-se, portanto, voltar a aprendizagem (teoria /prática) para esses espaços organizacionais. É importante se entender melhor sua dinâmica, suas estratégias, seus processos produtivos e estilos de gerência, considerando as reais condicionantes ambientais tanto de clientela, de concorrentes e de fornecedores e, obviamente, de nível de presença e intervenção do governo. Não se desconhece o papel do SEBRAE em tal processo, porém o desafio da sobrevivência e perenização das mencionadas empresas não necessariamente depende desse único apoio governamental. A academia não pode deixar de se preocupar com elas, até porque há muitas possibilidades para as empresas pequenas no futuro que se avizinha.
A história de empresas nacionais merece ter assento na academia? As bases dos argumentos elencados são consistentes e convincentes? No item abaixo, um panorama dos questionamentos formulados.

7 - Questionamentos Exploratórios e Conclusões Preliminares

Muitas dúvidas emergem - na verdade me assaltam, desculpem a primeira pessoa do singular - quando se aborda esse tema. Não se postula, aqui, todavia, posição fechada. No momento, a intenção é ouvir o posicionamento de outros profissionais para se obter para a área validação ou não e, posteriormente, fazer nova síntese. Observem-se abaixo as dúvidas.
I - O desconforto de, ao se ministrar aula, referir-se a experiências exitosas de administração de casos estrangeiros. Será um sentimento compartilhado por outros professores e consultores?
II - O primeiro suposto básico, em contraposição ao desconforto, é que se pode encontrar, nas empresas brasileiras, casos que merecem citação e, com certeza, ilustrariam melhor o sucesso das empresas daqui. É uma afirmativa falsa ou verdadeira?
III - O segundo suposto é que não necessariamente teríamos de mecânica e automaticamente, assumir que os caminhos de sucesso das empresas do primeiro mundo serão os nossos. Há algo como uma ecologia empresarial lembrando que os remédios aplicados lá fora nem sempre dão certo aqui. Somente para exemplificar, a crescente expansão, vitalidade e dinamismo organizacional das ONGS - Organizações Não-governamentais nos E.U.A. -, conforme revelado com entusiasmo por Drucker (1992), não se repetem nem com a mesma intensidade, nem, muito menos, com os mesmos processos e práticas. Os casos referidos pelo autor desta comunicação mostram traços culturais fortes brasileiros ora de carisma, ora de isolamento dos dirigentes das ONGS nacionais, diametralmente opostos aos identificados por Drucker na sociedade americana e, nem por isso, elas deixaram de prosperar ou de dar certo. Revelam, por outro lado, um interessante aspecto histórico, indicando que, antes do governo de Getúlio, a elite brasileira se sentia mais responsável pela sorte dos desafortunados (16). No plano da assimilação de idéias estrangeiras de forma apressada, idêntica colocação já foi feita sobre a "febre" de qualidade total que assolou no país, no fim da década passada (17). É algo também percebido por outros profissionais?
IV - A metáfora da arte e seu valor universal, cada vez maior como resultado de uma imersão profunda no singular de um povo ou de uma experiência, cabe nesse contexto? É procedente? Por quê?
V - A defesa de uma história das empresas com os pés no chão brasileiro, central neste ensaio, não está formulada com a intenção de referendar o atual "estado d'arte" dos padrões de gestão empresarial nacional, que são, em grande medida, pobres e, no âmbito cultural, plenos de práticas e de processos de base autoritária, como destacou, com propriedade, Vasconcelos (1995) ao revelar a gênese autoritária da gerência brasileira a partir do coronelismo da nossa formação econômica e política. Longe deste articulista a defesa desse "status quo", em especial nas áreas de recursos humanos e empreendedorismo onde atua. Por momentos, chega mesmo a se perguntar: será que a nossa história de empresas nacionais é tão fortemente marcada por protecionismo de governo, sonegação de impostos, práticas gerenciais autoritárias coronelistas, falta de postura ética e corrução desregrada que nos envergonhariam até de narrá-las como exemplo?
VI - E o resto do mundo tem sido diferente ou a história publicada de muitas empresas não deixa transparecer tais aspectos indesejáveis, apesar de sabermos de casos e mais casos de envolvimento de empresa até com queda de governos (Allende x ITT) e o mais recente caso de monopolização de produtos de informática denunciado pela promotoria americana contra a Microsoft e o paradigmático empreendedor Bill Gates?
VII - Considerando-se as diferenças de tamanho, de expressão de dinamismo e de integração internacional da economia e das empresas das diversas regiões do Brasil, cabe a pergunta: temos uma história de empresas uniforme e linear? Na hipótese de um resposta negativa (vide nota no 11 ), como abordar a matéria?
VIII - Se, por hipótese, assumir-se que a internacionalização vai penetrar em todos os recantos da nossa vida empresarial e os traços predominantes da nossa cultura (17) serão inexoravelmente desprezados e que tais estudos serão, no máximo, de serventia antropológica ou de etnografia comparada para revelar como éramos primitivos e selvagens antes dos benefícios da globalização, o que fazer? Valeria a pena defender sua pertinência?
IX - Sabe-se, ainda, que se fazem muitos estudos de casos de empresas brasileiras, menos com o propósito de aprendizagem organizacional e de devolução social do que com a indisfarçável intenção de "venda" de imagem institucional. Isso não resiste a qualquer crítica mais apurada. Se a história de empresa tem sido algo objeto de "manipulação" de imagem, valeria a pena tratar desse assunto?
X - Por outro lado, ao abrir, neste texto, a abordagem adotada, acredita-se que se tenham agregado à simples produção de uma peça mercadológica novas dimensões e recortes de investigação para serem objetos de um trabalho da história de empresa, tais como a questão da análise estratégica, do tópico da cultura e do perfil empreendedorístico dos fundadores como os mais importantes. Em outras palavras, colocam-se novas relações ,"links" em inglês, e novas fronteiras conceituais, visando-se a extrair da história lições de aprendizagem organizacional para toda a comunidade de profissionais da área. Seriam essas contribuições algo substantivo capaz de agregar conteúdos novos aos estudos de história de organizações no país?
XI - Malgrado muito dos óbices levantados, uma serventia de grande aplicação desses estudos poderia ser defendida se se considerar que os programas de empreendedorismo hoje em implantação no país precisam de tais casos para servir de paradigma e inspiração a jovens empreendedores. Em outras palavras, a psicologia, a rede de relações, em inglês "networking", a aprendizagem com sua equipe, a aprendizagem em termos de estratégias empresariais e outros aspectos da vida e da vivência empresariais seriam elementos fundamentais para identificação de modelos de empreendedores, visando ao esforço da disseminação da cultura empreendedorística. As pesquisas internacionais apontam para o fato de que todo empreendedor se inspira em algum modelo - pai, parente ou alguém influente. Logo, se o país dispõe de exemplos paradigmáticos, por que não os utilizar?(19)
XII - Será que o capital intelectual de nossas empresas, aqui compreendendo necessariamente o capital humano - o conhecimento, a experiência, o poder de inovações e a habilidade dos empregados além dos valores e da cultura de uma empresa -, no sentido defendido por Edvinsson e Malone (1999), não tem valor intangível significativo como o de outras organizações internacionais?
Para finalizar, reitera-se a defesa de um novo "locus" de trabalho para a academia focado nos estudos de história de empresas. A metodologia sugerida neste ensaio pode emprestar a tais estudos novas dimensões além de simples peça mercadológica. Apesar da globalização, o país continua a precisar de casos de sucesso contextualizados, historicamente surgidos no nosso ambiente, observando-se, inclusive, as diversidades econômicas e culturais; para isso, convém estudar-se a fundo nossos valores, hábitos e crenças; assim, poderemos mexer em componentes e dimensões indesejáveis dessa mesma cultura. A simples negação de sua existência tem, com freqüência, levado ao malogro, conforme adverte Vasconcellos (1995) no texto já mencionado: "Nesse sentido, qualquer esforço para criar uma cultura organizacional mais ousada (...) depende de compreender e trabalhar os traços hoje existentes". Por todas as razões, acrescente-se que, antes de, na ânsia da internacionalização, jogar-se fora, pelo ralo da água suja, o legado da nossa história empresarial, vale a pena resgatá-la, até porque muito do capital intelectual - da identidade empresarial brasileira - diga-se de passagem, cultural também - está encerrado aí, na história das empresas nacionais.

 

NOTAS

1 - Segundo Hosfstede, as teorias americanas de motivação - McClelland, Maslow, Herzberg e Vroom -, apesar de extremamente difundidas, seriam antes descrições dum sistema de valor da classe média americana do que uma descrição universal da motivação humana. In "Motivation, leadership and structure: do americam theories apply abroad? Org. Dynamics, Summer 1980, apud Mendonça (1987).

2 - Os "stakeholders" em uma organização são os indivíduos ou grupos dependentes da empresa para a realização de seus objetivos e de quem a companhia depende para sua existência. Nesse sentido, seriam "stakeholders" de uma empresa os empregados, os fornecedores, os clientes, a sociedade, o governo e, obviamente, os proprietários, mas não exclusivamente. Vale dizer, "stakehodres" é muito mais do que "stokeholders", o conhecido acionista. In, Rhenmam, Eric. Industrial democracy and industrial management Londom Tavistock Institute, 1968, apud Mendonça (1987).

3 - Se alguém, hoje (abril 2001), procurar, na internet, por história de empresa ou história de empreendedores em português, só encontrará quatro "homepages", das quais uma única tem configuração acadêmica de administração, vez que é mantida por um professor universitário carioca da área. Já se, por outro lado, alguém investigar o assunto em inglês, sob o título de "entrepreneurial history", encontrará mais de três dezenas de centros americanos e europeus voltados ao estudo do tema.

4 - Ver o livro Feito para durar -Práticas Bem-sucedidas de Empresas Visionárias - Rio: Rocco, 1995.

5 - "Dos 300 maiores grupos privados nacionais, 287 são controlados por uma ou mais famílias. Tais empresas fundadas nas décadas de 50 e 60 estão exatamente passando pela transição do poder de propriedade".Bernhoeft (1992) Quanto à idéia de devolução social, a intenção é a de garantir responsabilidade social às ações empresariais.

6 - Ver a recentíssima "História do Brasil" (1997) editada pela Rede Zero Hora e a Folha de São Paulo, coordenada pelo jornalista e historiador Eduardo Bueno. São Paulo: 1997.

7 - O Professor Sílvio Luiz Jonham (1996) tem uma tese interessantíssima sobre o que ele chamou de "Idéias -Semler".

8 - Ver Barros, Betânia e Prates, Marco Aurélio (1996); Brasil, Haroldo, Diegues, Sônia e Blanc Georges ( 1995) .

16 - Azevedo, Ferdinand - Ação Católica no Brasil: corporativismo e sindicalismo, São Paulo: Edições Loyola, 1986.

9 - O primeiro texto publicado dentro desta moldura de Projeto de Identidade e Memória foi sobre a empresa de transportes coletivos do município do Recife e intitulou-se "Transportes Coletivos no Recife: uma viagem no ônibus da CTU"; o segundo projeto foi parte integrante do Livro de Collier sobre o empreendedor Carlos Alberto de Menezes; o terceiro, um livro editado pela Gráfica Recife, intitulado "Petribu: Terra e Homem"; o quarto, produzido pelas Edições Bagaço do Recife, comemorativo dos 60 anos de existência da Sociedade de Pediatria do Estado de Pernambuco, intitulado "Sociedade de Pediatria de Pernambuco: Tradição, Compromisso e Cultura", publicado em 1999; o último, sobre o Instituto de Medicina Infantil de Pernambuco, intitulado "IMIP -Identidade, Missão e Trajetória", lançado em novembro do ano passado, também com o selo das Edições Bagaço.

10 - A expressão "ideologia" está sendo usada aqui no sentido de Max Pagés, nos seguintes termos: "A ideologia predominante num grupo social ou em uma instituição constitui de fato uma 'bricologe' de elementos disparatados resultante de influências variadas, heranças de períodos diferentes. Para compreender tal fenômeno é necessário não ter a visão ingênua de ideologia que corresponde somente aos interesses da classe dominante". Vide Pagés et alli (1987).

11 - A história da administração das empresas nacionais não pode deixar de refletir as diversidades e desigualdades do país. Com certeza, se a experiência administrativa gerencial acompanha o dinamismo econômico de uma dada sociedade, é de se supor que no Brasil as nossas trajetórias foram bastante diversificadas, haja vista o caso do Nordeste, o caso do Sul, das Minas Gerais, do Norte e a mais recente e dinâmica situação do Centro-sul. De alguma maneira, o quadro que parece existir no país é muito parecido com aquele retratado por Brookfield, um historiador britânico da economia que, após analisar a economia internacional, dá uma espécie de "colher de chá", a autores como Celso Furtado, Sunkel, Prebrish e outros latino - americanos, para que falem e dêem suas interpretações sobre a evolução da economia do mundo capitalista. A esse capítulo, Brookfield deu título de - sic - " Voices from the Periphery", in( Brookfield 1977). Em outras palavras, a história das empresas e, por via de conseqüência, da administração brasileira tem indiscutivelmente um peso muito grande derivado da experiência das organizações paulistas (o Estado responde por mais de 36% do PIB nacional), mas os demais estados, caso de Pernambuco (2,70% do mesmo PIB), têm também uma história para contar e narrar. Na verdade, a diferença São Paulo X E.U.A. e Europa Ocidental são "mutatis mutandi" a mesma São Paulo X resto do país. Se não vale a pena discutir diferenças regionais, não valeria a pena discutir também singularidade nacional.

12 - Vide (Azevedo 1986) e (Collier 1996).

13 - (Dalland, R 1969), (Hirschmam 1963) e (Cardoso, F.H. 1964).

14 - Em 1710, houve, em Pernambuco, uma guerra entre as cidades de Olinda e Recife, após a elevação desta última a condição de vila. Foi denominada de Guerra dos Mascates, porque os portugueses de então assim chamavam depreciativamente os comerciantes brasileiros da cidade do Recife.

15 - Sobre questão da ideologia de profissionais, vide texto de Covre, 1981 e Bresser Pereira, L.C. 1981.

16 - Este assunto é objeto de análise na Apresentação do livro do autor sobre a Sociedade de Pediatria de Pernambuco, já referido na nota nove, sob o título "Por que e para que nascem as Organizações não governamentais".

17 - "Pesquisas realizadas no primeiro mundo revelaram um índice elevadíssimo (cerca de 70%) de insucessos de implementação de programas de qualidade total", in( Diniz Costa ,2000).

18 - Ver o trabalho de Barros e Prates já citado sobre o caso do Método Engenharia de São Paulo, que promoveu uma mudança na empresa a partir de uma abordagem positiva dos valores culturais brasileiros.

19 - O Professor Fernando Dolabela revela esse posicionamento e defende o emprego de entrevistas com tal propósito em seus livros O Segredo de Luíza (São Paulo: Cultura. 1999) e Oficina do Empreendedor (São Paulo: Edit. Cultura, 2000). Posição idêntica é defendida por Reynaldo Marcondes e Cyro Bernades no livro intitulado Criando Empresas para o Sucesso, São Paulo: Edit Atlas, 1997.

 

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